terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Conto de réveillon - PARTE 2

Aqui vai a segunda parte do conto... mas, hoje vai ser um pouco diferente. Vamos testar uma nova maneira de ler, certo, pessoal? Vamos fazer uma leitura cruzada com uma música. Primeiramente peço a todos que botem a música Charlie Brown - Coldplay(no player ai abaixo) para carregar. POR FAVOR NÃO ESCUTEM A MÚSICA ANTES DE VEEM O SINAL DE PLAY NO MEIO DO TEXTO, COLOQUEM APENAS PARA CARREGAR. Aconselho vocês a utilizarem fones de ouvido e colocarem em um volume que não prejudique a leitura(para o caso dos mais desconcentrados). Vai funcionar assim: no meio do texto haverá um sinal em vermelho para vocês darem play na música e vocês continuam lendo e imaginando o conto da mesma forma, sem pressa! Quero ver a capacidade criadora que vocês possuem! Aconselho, também, reler o ultimo parágrafo da parte 1 para "sintonizar" a leitura(enquanto carrega, quem sabe?). Espero muito que vocês realmente façam essa leitura cruzada e que dê certo como deu comigo. NÃO COMECEM A LER SEM A MÚSICA. Comentem se deu certo e o que acharam! Ai vai o texto!



- Ah, é a primeira vez que a borboletinha sai do casulo, né?
Balbuciou um dos mal feitores... Mas ele se arrependeu muito depois que levou um ponta pé daqueles de Hargne. Andaram em fileira arrodeando todo o quarteirão que componha a casa de Ravi... E este... Parecia uma criança indo a primeira vez ao parque de diversões... Fascinado por tudo... Por gente... Por árvores... 
E como combinado pegaram um ônibus que os levaria para outro ponto de ônibus que, esse sim, os levaria ao litoral. 2 horas de viagem, aproximadamente.
A sensação que Ravi sentia era única... Um misto de euforia, medo e incerteza. Até entrar no primeiro ônibus ficou pensando seriamente em desistir do maquiavélico plano... E já dentro do veículo, chegou a se levantar do banco para pedir ao motorista para parar... Mas Hargne o impediu. O coração de Ravi batia aceleradamente... O medo do famigerado perigo que os pais tanto falavam... As pupilas dele dançavam com a variação de luzes e de sentimentos... Ele podia sentir a pulsação forte na nuca, como se estivesse caindo... Era forte demais. 
Quando desceu do primeiro ônibus e se encaminhava para o segundo, literalmente alienado, viu uma parte do que os pais haviam alertado: mendigos bêbados na rua, alguns consumindo substâncias ilícitas... E ele ficou absorto diante de tanto perigo ali, bem na frente dele. Não perderam o ônibus devido à astúcia de Hargne que o puxou pelo braço com tanta força que o fez saltar de uma vez no veículo. Os primeiros 20 minutos no novo ônibus foram os piores da vida dele... Fora o nervosismo de estar saindo de casa, fugido, pela primeira vez... ele enjoou o movimento... e vomitou umas 3 vezes... mas depois relaxou e passou a sentir aquele vento inebriante que entrava pela janela... no cabelo... no rosto... dentro da camisa... Meu Deus, como era bom ser livre! Aquelas paredes que tanto o reprimiram, agora, se esfacelavam em um vento delicioso... Sorriu desesperadamente o resto do percurso... cuspiu na janela para ver a saliva correr... balançou o cabelo loucamente no vento para senti-lo percorrer as entranhas do couro cabeludo... enfim, viajou minimamente pela primeira vez em sensações reais.
O ônibus os deixou a alguns quilômetros do litoral e eles demoraram longas horas a pé no percurso que dava acesso à praia. Quando chegaram, uma multidão eufórica já vibrava o ano novo que estava distante apenas alguns minutos e Ravi ficou bastante apavorado com aquela multidão vibrante e branca que estava ali... Principalmente quando lembrava das caras de pavor que os pais dele faziam ao falar sobre aquele ambiente. O coração estava batendo forte e o instinto de fuga dele estava bem próximo de ser ativado ao máximo... Ele quis desistir de penetrar naquela multidão que tanto o apavorava, mas uma das coisas mais apreciáveis em um humano é a capacidade de persistir nas atitudes que toma e foi exatamente isso que ele fez.
PLAY NA MÚSICA.
Quando chegou e andou alguns poucos metros na areia, um estalo enorme veio do mar e um brilho alucinógeno preencheu o céu escuro. A multidão eufórica gritou em uníssono e levantou os braços saudando positivamente o novo ano que estava entrando. Ravi ficou tão impressionado com aquela intensidade que se perdeu da turma.
Mas foi exatamente ai que ele se achou.
Os fogos de artifício continuaram emergindo do mar em um sincronismo perfeito e aquele calor humano com um tsunami de energias positivas deixou Ravi sem chão. Nunca ele havia sentido algo tão forte... Ouviu mais um chiado e olhou para o céu e um colorido exuberante preencheu o céu de ponta a ponta. Como num insight, ele simplesmente se achou dentro de si... Aquele menininho frágil e excêntrico deu lugar a homem em êxtase... Poderoso... Grande... Forte... A pulsação dentro dele era violentíssima... Literalmente ele estava explodindo por dentro. Aquelas cores psicodélicas o faziam viajar e por mais que ele quisesse ver tudo, aquilo era tão intenso que os olhos dele não conseguiam dar conta, a capacidade visual dele era reduzida diante de tanta luz. Ficou absorto e sentou na areia. Deitou-se. Ficou admirando os fogos pelas frechas dos braços das pessoas que, ao contrário do que os pais falavam, estavam celebrando a vida sem preocuparem-se em mata-lo. Meu Deus sentir e ver aquilo era incomparável às sensações que ele tinha vendo a patética TV caríssima da sala de sua casa.  Aquilo era tão forte e tão novo que por alguns segundos ele passou a se desconhecer. Sabe... Aquelas amarras sociais que tanto o prenderam e o forçaram a ser um rapaz íntegro e direito foram explodidas coloridamente... Agora ele era livre por dentro e por fora e, agora, ele já sabia o que era sentir.
Ele só queria pular e celebrar a vida que ele não tinha vivido até aquele momento. Ele estava pouco se importando com as roupas, com o cabelo, com o que os outros iriam achar daquele louco faminto por vida.
Nesse momento um grupo de pessoas avançou em cima dele e ele quis correr desesperadamente... Mas as pessoas não deixaram, caíram com força em cima dele na areia e derramaram champanha em seus cabelos... Ravi jurava que as pessoas iam, por fim, mata-lo e fazerem com ele o que os pais tanto temiam, mas isso não aconteceu... O que as pessoas queriam, realmente, era saudar o novo ano com ele...
As pessoas caídas na areia se entreolharam, Ravi ainda em pânico, e gritaram e soltaram grandes gargalhadas...
-Feliz ano novo, cara estranho!
Falou um dos rapazes que estava com uma taça na mão.
- Èh! Feliz ano novo, carinha!
Disse uma moça super simpática que estava ao lado de Ravi.
Os outros, que também caíram, desejaram calorosamente feliz ano novo a ele e sentados na areia deram um forte abraço em grupo nele. Nunca em toda a sua existência Ravi recebeu um abraço tão intenso físico e psicologicamente, nem do seu pai, nem de sua mãe... Aquela cumplicidade desconhecida o fez compreender uma coisa na vida: por mais que existam centenas de pessoas medíocres, ainda há aquelas que valem a pena conhecer e é exatamente por essas pessoas que a nossa vida vale a pena.
Os fogos continuavam, intensamente, colorindo e preenchendo de forma sobrenatural aquela escuridão. O brilho dos fogos na água do mar duplicava a sensação alucinógena e Ravi agora pulava e vibrava saudando o ano novo bebendo enormes goles de champanha ao lado dos novos amigos e de Hargne e sua trupe que quase no fim do show pirotécnico encontraram o novo Ravi.
Depois dos fogos, Ravi ainda com o coração ritmado com os fogos, sentaram-se todos na areia e partilharam a comida que trouxeram. A comida não tinha nada de mais e não era muita... Biscoitos industrializados e refrigerantes quentes... mas era exatamente do que Ravi precisava e, talvez, o fez mais feliz do que qualquer outra coisa. A sublimidade do momento foi de grande preponderância e serviu de exemplo para o resto da vida daquele garoto... Ele aprendeu que não há dinheiro que pague momentos intensos vividos.
Quando os primeiros raios solares apareceram no horizonte róseo, e um menino da trupe começou a tocar violão, Hargne sentou perto de Ravi e o interrogou sobre a noite... por fim, sonolenta, deitou-se no ombro dele e já as sete da manhã faíscas saltaram da areia e um beijo surgiu entre eles. A flor, finalmente, foi capaz de brotar no asfalto... surgia uma paixão no coração do garoto. Ai vai outra lição para nós, leitores. Não podemos viver achando que só somos felizes por causa do amor... não adianta vivermos a nossa vida angustiados devido ao amor frustrado, problemático ou sei lá o que. Só encontramos o amor em sua essência quando estamos verdadeiramente felizes. O amor é, primeiramente, decorrência da felicidade.

 Não gosto muito da expressão “nasceu de novo”... Mas usando-a corretamente, podemos dizer que nesse dia nasceu um novo Ravi.

Feliz 2012 pessoal! 




3 comentários:

  1. Ahhhhhhhh, enfim achei um blog com bons contos!
    Adoreeeei isso aqui! Como você, também não sou tão ruim assim: não roubei e nem matei ninguém (ainda). KKKK

    Ótimo blog, sucesso!
    http://iampurplepineapple.blogspot.com/

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  2. Adoro contooos !
    Nossa você escreve super bem , PARABÉNS VIU !
    Tudo de bom pra você em 2012.

    ***obrigado pelo visita no meu blog !
    =*
    http://jeitomeninadeser.blogspot.com/

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  3. Ótimos textos cara...

    Seu blog éh muito bom...estou seguindo..

    http://www.skinnysfromhell.co.cc/

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