sábado, 19 de outubro de 2013

Manifesto por um mundo com amores mais barulhentos

Não sei amar em silêncio. Por mais que eu tenha que passar o resto da vida tendo que gastar com palavras o que era pra ser gasto com vivência, não consigo deixar para depois a vontade de dizer, confessamente, que amo alguém. A não ser que a pessoa esteja em um relacionamento sério e eu não esteja nenhum pouco afim de torná-lo engraçado, claro.
Passamos a vida tão no vermelho, para adiarmos isso, não acha? 
Alguém já disse por aí: "Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida". Concordo em gênero, número e grau. 
Quantas e quantas noites não foram salvas assim?
Quantos sorrisos não foram ganhos e retribuídos desta forma?
Quantos suicidas se transformaram em tristezicidas após um "amor" verdadeiro?
Porque, se pararmos para pensar, tudo que buscamos na vida é amor e suas infinitas variantes.
Foi no dia em que saí de casa (atrasado), entrei no ônibus, e menos de 1 km depois deparei com um acidente, que percebi que amor é o que nos salva mesmo da existência. E que é exatamente isto, com diversas roupagens,  que buscamos.
Eis que em um polêmico cruzamento, dois carros colidiram. Os motoristas, então, que nada sofreram, e deveriam sentir-se amados o suficiente pela vida por conta disso, começaram a discutir sobre quem estava errado. Lembro bem de uma idosa pálida que havia em um dos carros, nervosíssima pelo ocorrido. Mas nisso, os motoristas não reparavam. Vociferavam palavras um ao outro, com uma centena de pessoas à assistir e gritar pedindo que tirassem os carros do meio para que pudessem seguir suas vidas nada amorosas. Uma balbúrdia.
Foi então, que ambas as esposas dos dois briguentos, trêmulas e chorando, rodearam os carros e se abraçaram. Foi um nocaute massivo. Uma centenas de caras acertadas de uma só vez. Na hora, só pude sorrir, embora minha vontade fosse descer e abraçar elas. O exército do ódio caiu por terra e os motoristas se entreolharam e riram. Tudo ficou bem, vexame resolvido, continuaram suas vidas. Tá vendo? Simples: amor. Só buscamos menos burocracia para nossa vida e mais amor, senhora Presidente!
A partir daí, passei a observar verdadeiros 'pequenos heróis do amor' no nosso dia a dia e a analisar o quanto isto é algo substancial. 
Foi amor quando vi a mãe de um jovem cadeirante, morrendo de rir de felicidade, ao colocar ele, desajeitadamente feliz, em uma cadeira de dentista e ver a realização dele naquele momento.
Foi amor quando vi um casal adolescente dando um puta amasso na parada de ônibus lotada sem ligar pra ninguém.
Foi amor quando vi um casal de idosos namorando na praia.
Foi amor quando vi um pai e uma mãe, com seu bebezinho de poucos meses de vida no ônibus, e o pai trocou de lugar com a mãe porque o sol estava incidindo no garotinho.
Foi amor quando vi uma mãe sorrir com carinho e escondida, vendo a filha, antes triste, sorrir.
Foi amor, muito amor, quando eu decidi me desarmar para viver um amor.
Podemos nos tornar, quem sabe, nossos próprios heróis do amor, não acha? Se o amor, este que pode ser asas e abismo na vida de qualquer pessoa, é tão urgente, não escondamos nossa urgência e sejamos salvo pela nossa própria emergência, afinal, amor é um exercício constante de emergir aquilo que teimamos em manter imerso no nosso mar particular.
Por isso, me peça para gritar e me chantageie dizendo que vai berrar ao mundo nosso amor, mesmo que ninguém possa saber, mas não me peça para amar em silêncio. Barulho sempre é alguma coisa, mas silêncio, nem sempre é algo. Vamos! Chantageie-me, compre-me com suas afrontas apaixonadas, seus devaneios poéticos, torne-me seu herói do amor, mas, por favor, não me torne apenas um expectador silencioso das suas desventuras apaixonadas. 
Também não gosto de monotonia e de mimimi adocicado, não ache isso. Amor deve vir em lugares cabidos, assim como o sal, a pimenta e o açúcar na nossa dieta, principalmente para os hipertensos. Não é porque acredito na sua valia, ainda que gasto com palavras, que o gastarei à toa.
No entanto, deixar de dizer algo tão raro e tão bonito, quando verdadeiro, pode ser uma tremenda sabotagem consigo mesmo e, se consegue calar diante da urgência que é, não se iluda, não é amor.

domingo, 13 de outubro de 2013

Letras à se fazerem voo

Amor em tabelas é quadrado.

           Prefiro
        um
            amor
                  em
         espiral.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Metalinguagem

Cansei de fazer poesia escrita,
agora quero fazer poesia vivida:
gestos em versos,
sorrisos rimados,
amor com neologismos,
aprendizado como epígrafe,
vida com ritmo compassado
{mas sem rimas A/B A/B, porque são monótonas},
prazer como inspiração e
felicidade com licença poética.

Tac Tac

Todos os nossos dominós
enfileirados. Somos.
E a vida sopra, e venta
e derruba.
                 Caímos.
Mas até o dominó das
angústias cai.
E passa, e segue e vive.
E vive.