sábado, 9 de julho de 2011

PARTE 3 - FIM



Que tonta que havia sido Linda! Já andara tantas vezes de carro e justo naquele dia, não conseguiu ao menos fazê-lo funcionar! Pensava ela, decepcionada.
Que tonto que havia sido Eric! Escrever um poema idiota, esquecer no livro de uma desconhecida, permitir se apaixonar por ela, gastar todas as economias com combustível e sequer a vê-la. Repetia ele pra si mesmo em voz baixa.
Foi quando aconteceu. Eric  já nas proximidades da universidade, decepcionado e cabisbaixo vinha na sua barulhenta vespa, e Linda ia dobrando na justa esquina, a caminho de casa. Ele passou bem ao lado dela, e ela o reconheceu. Foi o suficiente para Linda ter um acesso de adrenalina, e sentir o sangue pulsando muito mais forte no seu corpo. Gritou. Gritou mais forte.
Aquele barulho infernal da vespa de Eric jamais o deixaria escutar aqueles gritos. Linda quis correr desesperadamente atrás dele, e tentou. Mas o salto não permitiu tamanho esforço, e tirou os sapatos e jogou-os para algum lugar bem longe dali.  Linda Desesperada sem saber o que fazer, acenou para qualquer carro que vinha, e um táxi parou. Segue aquilo ali ó, apontou para o troço azul e barulhento que já estava a muitos metros de distância. O que ela mais queria era Eric. O seu escritor, e o cara que a fizera parecer uma louca em poucas horas.
Eric, extremamente triste continuava naquele misto de tristeza, luzes e vento com a maior intensidade possível. Ele queria apenas chegar em casa e se trancar, não olhar mais para ninguém, muito menos para Linda, sua fiel leitora sobre a qual ele pouco sabia, mas que havia mexido com ele e talvez o tornado louco em poucos horas. Ele ia questionando-se sobre sua lucidez.
Chegou no prédio, jogou a vespa azul na garagem, balbuciou alguma coisa como "imprestável" para a pobre motocicleta.
Linda, frenética, jogou o que achou de dinheiro em sua bolsa no taxista, que assustado abriu a porta. Nos segundos que se seguiram, Linda, descalça correu descontroladamente. Chegou a garagem e nada, ele não estava mais lá. Correu para o elevador, que estava ocupado no 10º andar, e bateu o pé descalço no chão desesperadamente enquanto ele descia até o térreo.
Eric, tentou abrir a porta com as chaves que tinha na mão: 1º tentativa... Nada! 2º tentativa... Nada! A terceira por fim, girou de vez a fechadura e abriu a porta.
Se houvesse alguém vendo as imagens da câmera do elevador no momento em que linda subia, certamente duvidaria da lucidez da garota. Esta se olhava de todas as formas nos espelhos, passava a mão no cabelo, olhava com cara de dor para o teto, e por fim, este chegou ao destino.

Entre o momento em que Eric girou e viu que vinha vindo alguém no elevador devido o números estarem piscando, e a porta do mesmo se abrir, foram segundos que duraram uma eternidade.
Quando a porta finalmente se abriu, o coração de Eric disparou descontroladamente, seus olhos arregalaram-se e suas pupilas dilataram-se. Linda, sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo, e o excesso de adrenalina lançado no seu corpo a fez correr em direção a Eric.
Na meia luz daquele corredor do prédio, dois vultos correram, chocaram-se com todo fervor, e durante muitos minutos que se seguiram beijos, beijos, cabelos desgranhados, camisas amassadas, beijos, abraços, troca de olhares, e mais amasso preencheram aquele ambiente que antes parecia extremamente inanimado, mas que agora parecia ser preenchido por uma corrente elétrica extremamente cheia de vida...


- Mas e ai vô!, a vó Linda é boa no amasso?
Perguntou Pedro, de 16 anos, neto de Eric, em uma roda de jovens que estavam parados a vários minutos ouvindo a história do velhote.
Eric, com lágrimas nos olhos, emocionado com as memórias que acabara de relembrar respondeu:
- Se é!

Fim.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

PARTE 2 -




Em algum horário do dia seguinte Eric procurou desesperadamente seu fútil, porém valioso poema "sem dona".
Já Linda, passara o dia inteiro evitando pensar naquilo, aquele pensamento... E... Er... Eric, era o nome dele, né?
 Eric forçou mais um pouquinho o cérebro, e lembrou onde estava o sumido poema. Desespero, gritos, pavor em frente ao espelho e cabelos assanhados. Sairia correndo? Não, os vizinhos eram pessoas, e pessoas adoram tachar as outras de loucas, principalmente quando essas outras pessoas ajudam um pouco. Como ele olharia para Linda, caso eles se encontrassem na fila do refeitório, na biblioteca, ou tropeçasse nela de novo?
Vento, velocidade, e luzes. Essa era a sensação que Eric sentia em sua vespa, ao ir com toda a velocidade possível para a casa de Linda, que ele nem sonhara onde era. Pobre Eric, mal percebera ele, que todo esse desespero havia uma causa, e que as mesmas malditas substâncias que haviam sido ativadas em linda, agora surtiam o mesmo efeito nele.
Linda, que evitara pensar o dia inteiro "naquilo", agora, que anoitecera pensava, vezes e mais vezes no acontecido do dia anterior, no seu acesso de loucura com Eric, e claro, como faria para devolver e agradecê-lo pelo poema. Quase como um instinto vestiu a roupa, olhou-se no espelho, e saiu às pressas. Ela teria de ir na casa dele agora, mesmo que não soubesse onde.
Enquanto Eric forçava cada vez mais o motor de sua vespa azul, mais desesperado ficava, e maior o barulho de latas de refrigerante girando em uma máquina de lavar era emitido. Como acharia Linda, em uma cidade tão grande? Num átimo de segundo, enquanto passava em frente a universidade teve a certeza de que em minutos estaria com o endereço em mãos.
Nesse mesmo instante Linda chegou agitadíssima ao ponto de ônibus. Seu carro não pegara, e ansiosa, tá bom, tá bom! Nervosa como estava, era capaz de ser presa por atropelamento em massa antes mesmo de chegar a qualquer lugar. Ela, mais maquiavélica e provando que possuía um Q.I 2 pontos acima do de Eric, passara o dia bolando o plano escondida dela mesma, e sabia que a universidade era uma fonte segura de dados para conseguir o endereço de Eric.
Eric, que agora já tinha amadurecido a ideia de que estava sentindo alguma coisa por Linda, parou seu barulhento transporte nas portas do fundo da universidade e correu em direção a secretaria. Conversa. Conversa. Explicações. Perguntas. Tic Tac, Tic Tac, Enfim a secretária entrega uma pasta em sua mão, e decepção. Linda morava do outro lado da cidade, ele teria que encher no mínimo 4 vezes o tanque da agitada e pouco econômica vespa dele. Mas o moral e sua reputação estavam e jogo. O que pensaria ela, lendo uma idiotice melodramática que parecia ter sido escrita por um pré adolescente?
Linda que agora era espremida e sentia uma leve falta de ar no ônibus lotado, rezava fervorosamente para que o ônibus chegasse ao seu destino: Uma esquina a 2 quadras da universidade.

Linda não conseguiu ver, e Eric jamais imaginara, mas estiveram a poucos metros, quando Eric indo pra casa de Linda parou em um congestionamento, e o ônibus de Linda a caminho da universidade parou justamente ao seu lado em uma via de sentido duplo.

Toc Toc! ... minutos se passaram. Toc Toc! mais alguns minutos. Ninguém atendeu Eric na casa de Linda. Foi quando uma das maiores frustrações da sua vida o pegaram. Tanto esforço... Era um louco mesmo... Assumia, assumia! batia de leve na parede do apartamento de linda... estava apaixonado por ela, e não havia mais o que fazer!
Cabisbaixo desceu até a portaria do prédio e perguntou qualquer informação sobre a garota que o havia deixado louco em poucas horas. A única informação que teve foi que ela não estava em casa, e que não tinha o costume de sair nesse horário. Pronto! Tinha outro! Claro que tinha! Fora a um encontro romântico com um cara mil vezes mais bonito que ele, era o que ele merecia por ser tão idiota, e fazer poemas idiotas! Pedalou o troço azul e barulhento, e seguiu para casa.

Linda que passara horas em um congestionamento, agora, depois de andar as duas malditas quadras, chegara a universidade. Porém, demorara demais, e o horário letivo já havia se encerrado.
Lágrimas, pequenos pulinhos entre um pé e outro e gritinhos histericamente controlados foram as coisas que presenciaram quem passou por ali naquele instante.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

PARTE 1 -


 Foi em um dia daqueles que dá tudo errado que Eric já levantou-se atrasado para ir a universidade. Era quase corriqueiro o sono debruçar-se sobre ele alguns minutos após o despertador soar, mas ele ainda não se acostumara com essa ideia. No caminho para a universidade foi transformando tudo em poema, tudo era notável, e tudo daria um bom conto. Fones nos ouvidos, e músicas leves para começar o dia.
Como o sol estava forte e suas pupilas ainda não haviam se acostumado com a recente iluminação, usava uma das mãos para proteger-se minimamente dos raios. E foi nesse momento, entre uma travessia de rua e a sua subida na calçada que Eric, aturdido pelo sol e com uma mão a sua frente tropeçou em uma garota que abaixara-se para fazer algum reparo no salto. Pronto. Tropeço, corrida, falta de equilíbrio, olhos fechados, chão, livros espalhados e uma pessoa ofegante no chão. O barulho citadino ajudava a dar uma trilha sonora para aquela cena.
Essa é só mais uma. Pensou ele. O céu azul acima de sua cabeça o dava uma sensação de paz. Paz essa que foi interrompida com uma enorme quantidade de perguntas vindas dos curiosos que juntaram-se ao seu redor. Quando bem achou que poderia ir embora, lá vinha uma garota, o apontando com um dedo e com os cabelos levemente desgrenhados. Ela era morena, estatura mediana, cabelos curtos, vestida elegantemente e com as bochechas tão vermelhas, que o formato do seu rosto assemelhava-se ainda mais com um coração. Ele pressupôs que a vermelhidão dela era de raiva, e estava certo. A garota lhe jogou um jato daqueles de palavras, e os períodos formados por elas se alternavam entre lições de moral e vontade de manda-lo para o hospício. Enquanto ela o inundava com palavras, ele apenas a olhou admirando sua beleza. Silenciosamente ele andou alguns passos atrás, abaixou-se e pegou os livros da garota que estavam no chão e a entregou, sorrindo. Ela, nocauteada com a gentileza de Eric, apenas se calou e recebeu os livros boquiaberta. Sem tempo para apresentações e beijinhos no rosto, despediram-se e continuaram as suas trajetórias.
Quando Eric sentou na cadeira, abriu um de seus livros logo percebeu algo estranho. Coraçõezinhos, adesivos rosa pink, e a frase escrita com canetas coloridas: Este livro pertence a Linda S.
Mais abaixo uma foto que não o deixou enganar, era a garota brava com quem havia "esbarrado" mais cedo. E ela estudava na mesma universidade que ele, e cursava o mesmo curso, porém ela já no segundo semestre e ele ainda no primeiro. Pensando como destrocaria os livros e como teria coragem de olhar de novo para aquela maluca escabelada e com vontade de tirar os rins dele, a saída mais viável foi deixar o livro com o professor, que pediria o dele em troca, e estava tudo certo.
Durante a Aula desse dia, Eric rabiscou alguns poemas, iniciou alguns contos, riscou seu nome de diversas formas, mas apenas um poeminha ele considerou proveitoso e o destacou de maneira tortuosa de uma folha de papel. Guardou-o e ao fim da aula, conversou com o professor, explicou o incidente e o professor levou o livro para Linda.
Livros destrocados, no dia seguinte Linda abriu o livro e foi conferir se nada havia de errado com ele, e começou a folhear, e... rapidamente um papelzinho branco passou. Percebendo, Linda voltou mais devagar e pegou-o. Era o bendito poeminha que Eric havia escrito na aula. 4 frases, poucas palavras, tudo muito econômico, inclusive a qualidade. Mas quando Linda leu aquele humilde e romantiquinho poema, algo aconteceu com ela: Coração acelerou, sangue pulsou na nuca, artérias dilataram e retraíram em um instante, dopamina, feniletilamina e ocitocina(substâncias responsáveis pela paixão) foram rapidamente ativadas. Linda não sabia, mas inconscientemente já estava apaixonada.