segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Conto de réveillon - PARTE 1

Olá pessoal, como prometido, aqui está a primeira parte do conto de réveillon. Amanhã postarei a segunda e última parte. Espero que gostem.



Ravi era um daqueles caras que os pais protegem de tudo, inclusive do mundo. Estudava dois horários letivos e fazia as atividades à noite. Usava óculos e possuía uma postura de uma ave dentro de um ovo. Viciado em sensações digitais já que as sensações propriamente ditas não podiam ser sentidas porque os pais diziam que o mundo lá fora era perigoso demais para um menino como ele. Conhecia a linguagem HTML muito bem, mas a linguagem do amor... essa ele nunca ouviu falar. Sua pele era branquíssima devido à ausência total de contato com raios solares e seu rosto cheio de acne se preenchia, agora, com pelos. O visual desgrenhado, com excesso de cabelos, ressaltava a falta de preparo daquele menino em se tornar homem. Os pais o davam tudo que queria, dos mais caros vídeo games a enormes televisões, e se gabavam da pouca necessidade que o filho tinha de sair de casa, afinal, ele tinha tudo. No colégio era tão só quanto em casa. Não se dava bem com ninguém, nem mesmo os outros nerds. Diálogo só em trabalho em grupo e com o diretor ou os professores devido aos constantes ataques de bullying sofridos por ele. Ganhou o apelido de esquisitão em todas as salas que estudou, fora os outros apelidos que não devem nem ser mencionados aqui.
Queima de fogos, só via na televisão, em High Definition de uns tempos pra cá, mesmo morando a poucos quilômetros do litoral(onde havia, todos os anos, um dos maiores shows pirotécnicos do país). Funcionava assim: sentavam-se ele, o pai e a mãe no enorme sofá da enorme sala, ainda decorada com enfeites natalinos, e ficavam apreensivos esperando o horário em que o ano presente passava a ser passado e seu pai tomava  algumas doses de Whisky e outras bebidas caras. Acabados os 20 sonolentos minutos de show pirotécnico iam cada um pros seus devidos quartos e dormiam, já no dia 1 de janeiro. Foi exatamente assim que aconteceu nos 15 anos de existência dele. Quando interrogava os pais sobre o porquê de não sair de casa em uma data tão especial, respondiam que, geralmente, dava um grande público nesses eventos, eram muito violentos, existia um grande tráfico de substâncias ilícitas, e a probabilidade de irem vivos assistirem a tal evento e voltarem mortos era quase que 100%.
Mas era com Hargne e sua trupe de mal feitores que ele realmente se divertia. Hargne era uma menina magricela, ruiva, sardenta e de estilo estranho(sempre com um boné na cabeça) que comandava uma trupe de meninos "mal feitores" e roubavam para se alimentarem e alimentarem os outros moradores de rua. Quase toda noite ela escalava um muro de dois metros e meio, superava com maestria a cerca elétrica e se enfurnava no quarto de Ravi (não entrava pela porta da frente porque os pais dele proibiram o contato com esse tipo de gente estranha). Era nesse ambiente que Hargne fazia a sua principal refeição diária e, muitas vezes, conseguia o sustento de muitas outras pessoas... mas esse não era o único motivo dela ir até esse local... ele também era o lugar mais divertido do mundo e tinha tudo que qualquer criança ou adolescente sonha...
Faltando uma semana para o dia 31 de dezembro Hargne apresentou a Ravi o plano. Era ousado demais, mas todos os anos ela e a sua trupe iam até o litoral assistirem ao show pirotécnico... só que esse ano tinha uma diferença... ela queria levar Ravi. Ele de início recusou com rispidez, mas depois, quando a ideia finalmente germinou, nasceu, cresceu e virou uma enorme árvore em seu cérebro... ele aceitou... só não sabia como o faria. Tudo combinado! Mochila repleta de alimentos, bolso sortido de dinheiro... Ravi se sentia um aventureiro, de primeira viagem, claro... mas, aventureiro, ainda assim... Logo na saída ele foi motivo de chacota para a turma por não conseguir pular da varanda para a parte do muro onde a cerca elétrica era mais baixa... devido a isso teve que se arriscar e ir até a cozinha desligar a cerca elétrica para poder passar em um local onde ela era mais alta, porém, mais perto da varanda do seu quarto.
Foi no dia 31 de dezembro, ao entardecer, no intervalo em que a mãe dele chegava do cabeleireiro e o pai do serviço, que ele ultrapassou, pela primeira vez sem os pais, a porta da caverna. O jorro de adrenalina era tão grande que ele jurava que ia morrer. Depois que quase morreu de verdade ao pular o muro, olhou para Hargne que sorria simpaticamente para ele e balançou a cabeça como sinal de que tudo estava bem e ele a seguiria, como tinha prometido. A barulhenta turma se calou quando a ruivinha levantou a voz e ordenou que todos tomassem o máximo de cuidado em Ravi, já que essa era a primeira que fazia algo do tipo.

Um comentário:

  1. Nossa, fiquei com vontade de ler a próxima parte! Será que o Ravi finalmente vai ver a queima de fogos, depois de 15 anos? hehe

    http://tvfabulous.blogspot.com/

    Beijinhos

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