domingo, 21 de julho de 2013

O doce após o salgado


Não quero que meu casamento seja um mero acidente capitalista ou, quem sabe, consequência de atitudes  de jovens outrora apaixonados. Não quero ter que sobreviver 20 anos com alguém por consideração a 3  anos iniciais que foram realmente vividos. Não quero que ninguém me deva ações por eu cumprir minhas obrigações.
Porque amor é pêndulo, tic-tac do relógio, balança de bandejas que desregula. Muitos (sobre)vivemos achando que amor é digno de extremos. Amamos catastroficamente, odiamos subitamente.  Amamos catastroficamente, odiamos subitamente. E vamos nesse pêndulo; uma alternância cordial que põe em xeque aquilo que o ser humano mais teme: a solidão.
Porque se tem uma coisa que nós amamos é a contra-sensação. Amamos um salgado após o doce massivo, salivamos diante de um sabor açucarado após um paladar amargo, amamos um amor torrencial após um ódio tempestadiano.
Pare e pense se você não conhece um caso semelhante a este: o carinha está largado em relação ao relacionamento. Ela, chateada, decide "dar um gelo" nele. Não liga, não fala, não dá atenção. Resultado? O cara fica só, sente um puta ódio e depois, percebe que a ausência dela grita. Quase como uma vingança contra si mesmo, dá a ela uma dose sobrecarregada de amor, após o ódio. Vice-versa. Ela largada, ele "dá um gelo", ela o ama intensamente. É bem aí que se faz prática a teoria do doce após o salgado.
Retroceda e lembre o dia em que o almoço tinha tanto sal, que você aguardava ansiosamente pela sobremesa doce. Por fim, quando esta veio e você saboreou-a, entrou em um êxtase. Admita, essa quebra de sensações é um deleite! O amor estraçalhando o sabor do ódio é um orgasmo indescritível também, devo dizer.
O problema disso tudo está em o amor (metaforicamente, nosso doce) passar a ser mais a sobremesa da relação do que o prato principal, e aí passamos longos períodos ressecando nossos lábios com sal ao invés de nos lambuzarmos com açúcar. Seguimos por longos períodos nos enganando e engando o outro, tendo que aturar momentos de ódio para termos uma pontinha de amor vulcânico. Inteligente mesmo é quem engana a si mesmo para ter o que quer.
O outro problema disso tudo está na exaustão. Sim, esse é um dos poucos casos em que a repetição leva à exaustão, mas não à perfeição. Com o passar do tempo, principalmente nas relações mais duradouras, como os intervalos de salgado tornam-se mais amplos e constantes, o prazer adocicado torna-se cada vez menor e com menos emoção. Além disso, muitas vezes um amargo desesperador substitui o salgado, como isca pelo doce. Seguimos nesse pêndulo até que a exaustão tira o sentido da existência do pêndulo. Nossas relações passam a ser um mero acidente de quando nossa enganação particular funcionava ou de quando nem existia pêndulo e já vivíamos no melhor dos extremos da história. E aí, passamos longos anos tendo que sentir um gosto amargo como fél, dividido em muitas suaves prestações, como consequência da nossa enganação sobre o amor. Você decide.