segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Considerações finais


Há pouco me peguei achando chatas essas mensagens no Facebook de cada pessoa dizendo o que fez e o que quer fazer nesse novo ano que está aí, batendo e já com a mão no trinco para entrar na nossa casa. Li algumas, ri de outras, mas foi aí que descobri que isso é o que mais queremos nos seres humanos e é esse o segredo: construir coisas realmente grandes, porém, dentro de nós. Já fiz um texto para esse mesmo blog há algum tempo atrás sobre o que eu acho dessa data inventada, sobre como não 'muda nada', mas 'muda tudo'.
Nesse embalo, comecei a rememorar o que eu fiz nesse ano, que teve um gostinho de viver sonhos. Lembrei tantos momentos difíceis, lembrei de que, nesses momentos delicados, eu estava feliz por estar onde estava e que todas aquelas coisas que eu estava passando eu já sabia que iria passar e, ainda mais, eu desejei passar por elas. Eu literalmente abri minhas asas e voei alto e bem mais do que muitos poderiam imaginar, eu abocanhei a vida sedento por vivê-la. Foi o ano que saí da casa dos meus pais, que passei a morar 'só', foi o ano que vivi o sonho que passei o ano passado inteiro para realizar, foi o ano que conheci pessoas incríveis por dentro e por fora, foi o ano que me afastei de pessoas que nunca pensei em me afastar. Digo-lhes, também, que o sonho não era tão doce quanto eu achava, mas é bem melhor.
Foi o ano que eu reafirmei minhas teorias, reconstruí meus conceitos, reanalisei pessoas e tive a plena certeza do que eu quero para minha vida. Ah... só tenho a agradecer enormemente por tudo. Poucas são as pessoas que podem viver o que eu vivo e menos ainda são aquelas que têm a coragem de viver e fui lá e fiz. Li em um desses famosos livros de auto ajuda, certa vez, que o amor e a gratidão são os melhores sentimentos que se pode ter, que atraem outros e tal... Esse negócio de atrair pode até não ser verdade, mas que esses sentimentos colocam uns óculos escuros na gente e torna a vida muito mais bonita, isso é verdade.  Enfim, deixei para escrever o texto de ultima hora e mil intermitências apareceram enquanto eu o escrevia, acabou que o texto se esvaiu pela minhas mãos. Porém, quero deixar registrado aqui toda a minha gratidão por tudo e a esperança de que tempos bons continuarão a vir sempre. Que você, leitor, tenha um ano maravilhoso, mas que não espere que tempos diferentes venham se você continuar igual. Construa grandes planos dentro de você e transforme-os em realidade. Emane para os outros tudo aquilo de bom que você quer para você. Que venha saúde, sempre. Até 2013, espero que com muitas outras postagens.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Amor não são dois, é um.



Foi aí que um dia um sorriu para o outro e naqueles sorrisos estavam subentendidos mil verbos e mil ações. Os sorrisos cada vez ficaram mais intensos e os olhos faiscavam ao se encontrarem no mesmo momento daqueles mansos sorrisos. Era paixão, não havia como negar. Sorriram cada vez mais perto um do outro, iam, iam, até que um dia, quando ambas as partes subconscientemente já sabiam que os meros sorrisos eram mais que meros sorrisos, decidiram somar os sorrisos de ambos e formar uma felicidade ainda maior. Coisa de colegial. Ela, carente e cheia de amores românticos baseados naqueles mais torrenciais de Álvares de Azevedo para dar. Ele, aquele misto de erupção sentimental e sexual típicos da adolescência masculina. Passaram a somar os sorrisos cada vez mais, e mais, e mais. A somação de sorrisos, que deixavam de ser sorrisos quando se somavam, porém ficavam mais intensos (sabe lá que tipo de equação matemática que poderia explicar isso), acabou culminando naquela obsoleta prática do namoro.
Diz-se que as maiores felicidades não custam caro e é verdade. Quando estavam juntos era como se o mundo girasse lento, como se todas aquelas tantas leis físicas e químicas que teoricamente regem os corpos e o universo se esvaíssem. Até que, de tanto somarem sorrisos, eufemisticamente falando, tiveram que cruzar a sobrenatural virada de ano terráquea... aquela que é comemorada com objetos luminosos, e de forma estranha, para saudar caridosamente os novos momentos daquela nova girada da terra em volta do sol e que não muda nada, mas muda tudo.
Ela, sempre tão presa às vontades da sua mãe, que queria levar ela para a mais distante localidade daquela em que ele morava. Ele, tão preso às tradições, por nada trocava a tradicional virada de ano com toda a sua comodidade. Incompatibilidade, versus, contra, não deu certo. Um queria levar o outro para si mesmo e se muito tentassem e não se rendessem acabariam não levando ninguém para canto nenhum e passariam essa tão mágica, sobrenatural e inventada data desacoplados, sós, desconectados, com uma parte de cada um faltando.
Foi aí que faltando duas inventadas horas para a terra começar uma nova volta em torno do sol ele decidiu pegar sua motocicleta velha e barulhenta e ir buscar ela, de mansinho, para cruzarem essa misteriosa e energética barreira geográfica juntos. Destemidamente saiu, apenas com rumo e coragem, com a finalidade de achá-la, onde quer que estivesse. Ela, assim como a terra gira em torno do sol, girava no microcosmo em torno das vontades da mãe e estava lá, presa, restrita, coleirada. Foi aí que depois de uma hora no vento frio e na escuridão, guiada pelo farol da moto, ele chegou onde ela estava. Ela, com sorrisos tão belos quantos aqueles que foram cruciais para o início de tudo, o recebeu com uma cara de quem o achava louco, e ele o era.
Fez a indecente proposta baixinho, para que o sol que regia ela não ouvisse e impedisse o maquiavélico plano. De início ela negou, de final também. Acabou que no meio de tudo ela achou que seria indescritível e essa vontade do meio se sobrepôs à vontade final e acabou aceitando.
Sem desculpas, sem razão, montou na moto dele, juntou seu coração às costas dele e seguiram, por alguns minutos, sem direção, apenas seguiram. Ela o apertava, como se aquilo aliviasse todo o seu medo, esvaísse sua tensão. Ele, sentindo a respiração dela bem próxima à sua nuca, apenas guiava aquele veículo que na verdade era guiado pelo amor deles. Seguiram por quarenta minutos em uma escuridão que era iluminada apenas pelo ritmo rápido dentro deles e pela fraca luz da motocicleta. Cruzaram juntos, bem juntos mesmo, a ponte que ligava um lado da cidade ao outro. Subiram um íngreme ladeira que se elevava cerca de 50 metros acima da cidade e dobraram à direita. Subiram outra ladeira em cima da ladeira e, por fim, ele decidiu parar a moto.
Era uma escuridão absurda. Na beirada de um alto barranco que fora formado pela passagem do grande rio primitivo e que agora, como o rio era apenas um fio de água, era apenas um barranco, para alguns, um abismo. De lá, se tinha uma vista ampla de toda a cidade. Tinha pouca de iluminação, mas ele via os olhos arregalados dela como se perguntassem, "estamos fazendo isso mesmo"? Sem responder com palavras, ele apenas segurou a mão dela e a trouxe para mais próximo do seu corpo.
Minutos depois, diante da escuridão que era iluminada apenas pelos resquícios de luzes da cidade, como se fossem vagalumes de tons avermelhados e azulados, estavam eles e os primeiros fogos começaram a subir. Pequenos inicialmente, culminando com aquela explosão irradiante no céu, criando estrela onde não existia e alimentando sonhos com aquelas faíscas alucinógenas. As mãos deles estavam bem juntas, unidas, um susto súbito tomou os dois, quando aquele pontinho virou uma grande esfera de luzes bem no meio da cidade. Parecia mágica, os corações de ambos acelerados. Ele sentado na moto e ela escorada nele. Parecia que aquela união epidérmica unia os dois além de fisicamente, era como se todo aquele sistema cardiovascular fosse não dois, mas apenas um. Estranhamente, os corações de ambos começaram a pulsar no mesmo ritmo. Era como se aquele contato transformasse eles em um só... E é isso que o amor é em essência: amor não são dois, é um. A cada nova explosão no céu, ele a apertava como se aquela união fosse ficando cada vez maior. De súbito, a terra parou de girar em torno do sol e o sol passou a ser eles... tudo ao lado deles estava em câmera lenta, apenas eles, com corações pulsando rápidos, estavam na velocidade normal com que as coisas acontecem. Definitivamente agora eles eram o sol e todas as outras coisas giravam em torno deles. De súbito ela se virou, deixou para trás aquelas esferas de todas as cores que surgiam no céu e encostou o seu sorriso no dele. Não há como se explicar, não há lei ou teoria que se aplique ao que ocorre quando deixamos de ser dois e passamos a ser um.
Foi de súbito, foi no involuntário e aos poucos as peças de roupa deixaram de cobrir a pele e passaram a se acumular no chão daquele ambiente. Ela, tão cheia de pudor, se despiu como se ele fosse ela e, por isso, não havia estranhamento. Ele, que agora também era ela, também se despiu e deixou à mostra para o gélido vento toda a sua pele. Transcendental, involuntário, automático. Agora estavam os dois, despidos de qualquer amarra social, despidos deles e vestidos de ambos, juntos, unidos por forças que sabe lá de onde vinham, mas que os tornavam um corpo só. Por fim, quando as esferas brilhantes pararam de surgir por sobre a cidade e quando a respiração deles passou a ser uma só, untada por movimentos involuntários de ambos, eles alcançaram o máximo de céu que se pode chegar com os pés na terra e juntos, mais uma vez, romperam a barreira do entendível, do palpável, do concreto e mais do que nunca, regados por um gozo animalesco fizeram um casamento sem precisar de alianças, uniram-se através do tempo e do destino. Por fim, eram apenas um e agora sabiam que, ao contrário de que se diz, um é infinitamente melhor que dois. Ficaram abraçados, juntos fisicamente como uma metáfora para aqueles psíquicos que já era tão juntos e sentiram no corpo de ambos, aquele suor que emergia naquele ambiente inóspito, escuro e frio.
Agora, mais do que tudo, despidos de roupas e vestidos um do outro, puderam encontrar o amor como o fenômeno sobrenatural que realmente é, desatrelado desse protótipo inventado e midiático que divulgam por aí. Não há destino que se contraponha, eles eram um feito de dois.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Papéis ao vento


Hoje eu acordei bagunçado. Meu cabelo tava bagunçado, meus pensamentos estavam bagunçados. Não quis acordar. Minhas cobertas me bagunçaram. Eu baguncei elas. O tempo nos bagunçou, a vida bagunça o tempo. Sabe, ultimamente tenho visto as coisas como um túnel, uma viagem, muito mais finita do que pensava. Tudo esta se afunilando, se bagunçando, se apertando. Mas continuamos, seguimos, estamos nos bagunçando para caber na bagunça maior. Não sei se as pessoas me bagunçaram ou se eu baguncei elas, sei apenas que elas mudaram. Estão com um aspecto espedaçado. Só vejo os pedaços delas, poucos pedaços bons. Não quis me olhar no espelho. Queria que eu acordasse e a bagunça estivesse desfeita, que a vida estivesse intacta, que o  tempo reconstituísse ao invés de espedaçar. Mas eu me pergunto porque as coisas têm que ser assim, tão difíceis. Bagunças. Só queria algo bem forte, uma bebida que salvasse a noite. Vodca pra começar, um café que me mantivesse acordado para eu recompor essa desordem, esse caos.
Me baguncei mais. Enjoei das pessoas e de suas bagunças externas, de suas explosões internas, de seus sofrimentos. Enjoei dos olhares bagunçados, dessas opiniões bagunçadas que se acham corretas e organizadas, entende? engulam elas. Quero bagunçar elas a ponto de não ter mais volta. Não são elas que amam ver os outros bagunçados? se baguncem então, se façam papéis no ventilador, se desintegrem. Há tanto ainda, e já somos isso. Vejam, há tanto ainda. Talvez seja por essa sede de bagunça aleia que estamos tão bagunçados. Terminei o dia mais bagunçado, dormi bagunçado e acordei assim...

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Não necessita de título


Porque eu só tinha vontade de cuspir verdades. Se não dá pra espancar fisicamente, que verbalmente eu estraçalhasse pessoas. Não sei se é o tédio que faz a gente ficar nesse stand-by meio reflexivo, mas tem verdades que aparecem e só assim a gente percebe que esta sendo tão tolo. Cansei de inventar verdades e só quero viver essas verdades inventadas que tanto tempo as inventei. Tem horas que percebemos que somos tão desprezíveis... até grandes pessoas se sentem assim, pelo menos eu espero. Nem foi nada, mas foi o último dominó que caiu, de uma sequência de eventos anteriores. Não quero nada e quero tudo. Não sei como essa dicotomia se instaurou por aqui, mas tô vivendo assim. Eu achava que envelhecer era criar rugas e falar o tempo todo do tempo antigo vivido, mas hoje sei que é criar e perder hábitos e, acima de tudo, esquecer-se de quem era. Meu Deus, quantas vezes passei por cima de mim mesmo para ser quem eu sou. Sério, não sei o que aconteceu comigo... eu era tão mais positivo, tinha mais esperança nas coisas, nas pessoas... era mais feliz, até. Tô tão parado, tão dependente de todo mundo... e ainda tô aqui, feito idiota, falando essas coisas pra ninguém, rindo de mim mesmo. Não condeno bêbados. Juro. Estar bêbado em um momento desses era mais divertido, ver o mundo rodar é tão mais divertido quando isso acontece porque você bebeu e não porque tem que superar algo. Acho que hoje eu sou só cicatrizes, ou mágoas não sei. Sou só o resultado das coisas. Não sei se preferia a utopia de acreditar nas pessoas ou a gélida verdade de saber que não se pode confiar em ninguém... verdades, essas doem, de fato. Tenho tanta coisa para escrever, tantas conclusões, ou desconclusões... e tô aqui.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Isabela


Estava eu, sentado na cadeira do ônibus, ao lado da janela, sentindo aquele escaldante vento de 13:00 horas no rosto, quando o veículo para. Saio instantaneamente do devaneio em que estava e mudo a direção do olhar da janela para a porta de entrada do ônibus. Em Natal, os passageiros entram pela frente do ônibus e saem pela porta de trás. Umas 8 pessoas vieram em direção ao ônibus quando ele parou, a maioria aparentemente estudante, uma mulher com uma criança de colo com no máximo um ano e meio de idade e uma meninazinha que a acompanhava que tinha talvez 6 anos de idade. Passaram pela catraca uns dois estudantes, passou a mulher com a criança de colo e depois, supostamente, a menina teria que passar também pela catraca. Devido à uma lei existente, crianças da idade dela não pagam passagem e, por isso, ou pulam a catraca ou passam por um minúsculo espaço por baixo dela. Assim que a mulher segurando  a criança de colo passou, falou para a menina que vinha atrás: 
- Passe, Isabela, por baixo. 
E começou a ir para a parte mais ao fundo do ônibus onde tinha a cadeira preferencial para evitar de cair quando o veículo entrasse em movimento. Mas Isabela não gostou nada da ideia, cruzou os braços e encolheu ao máximo sua boca formando um bico, típico de criança emburrada. Antes de subir no veículo ela já estava chateada com alguma coisa que não deu para eu discernir, mas dava para ouvir os gritos da mãe com Isabela desde muito antes deles subirem a escada. Acho que essa chateação ajudou na sua peculiar decisão.
Isabela simplesmente se recusou a passar por baixo daquela catraca. Foi nesse momento, sem ninguém na frente, porém, com umas 5 pessoas atrás, que eu a vi melhor. Isabela era aquelas típicas meninas de família humilde. Magrinha, moreninha por causa do excesso de sol, tinhas os cabelos meio alourados com um amarelo que começava nas pontas e ao chegar no couro cabeludo escurecia. Além de alourados, os cabelos lisos estavam com um aspecto de sujinhos, meio cinzentos, meio bagunçados, presos em um rabo de cavalo meio torto segurando por uma liga encardida. Estava usando um vestidinho rosa claro daqueles muito antigos que possuem um "corpinho" (como diz minha mãe) na parte de cima com umas alças e a parte de baixo é feita com um tecido meio transparente, mais rodada, com umas pregas verticais, e possui um forro mais grosso em baixo. Usava umas sandália que já foram brancas um dia e agora eram marfim com umas rachaduras descascando o suposto couro que formava elas. Estava claro que esse era uma vestido utilizado em ocasiões especiais e quando olhei para o irmãozinho no colo da mãe, tive certeza, ele também tava muito ''nos panos'' com umas roupinhas nada caras e simples, mas muito arrumado. A mãe, que havia sentado atrás de mim na cadeira preferencial gritou:
- Chegue Isabela! cuide! passe pela catraca!
Isabela continuava lá, com os braços cruzados, batendo o pezinho no chão como a gente faz quando tá com raiva e olhando uma cena ridícula. Para ela, tudo aquilo era muito humilhante. Se a vida já cobrava dela atitudes adultas em muitos quesitos, porque não ser adulta e passar como gente grande por aquela catraca?
O cobrador ainda tentou ajudar:
- Passe, Isabela, pela catraca... passe...
Mas Isabela continuava lá, batendo o pé e com o queixo erguido, nem aí para nada. As pessoas que estavam atrás dela esperando para passar pela catraca e os outros passageiros do ônibus se mostravam impacientes diante daquela cena. Ora mais, nesses corridos tempos capitalistas, tempo, sobretudo, é dinheiro, todos sabemos disso e Isabela estava atrapalhando, com sua peculiar opinião essa linha de pensamento. O rapaz que estava atrás de Isabela deu um risinho de constrangimento, afinal todos do ônibus ao olhar para Isabela olhavam imediatamente para ele, e ainda tentou ajudar:
-Isabela, passe, passe... rindo simpaticamente e tentando 'ganhar' a confiança da menina.
Mas nada adiantou. A saída para o problema tempo/dinheiro foi tirar Isabela de frente da catraca e colocar ela ao lado do cobrador para permitir que todas as outras apressadas pessoas passassem pela catraca e o ônibus seguisse sua rota para pegar outros apressados passageiros. Passaram umas 5 pessoas, não sei ao certo, e a última a passar foi uma mulher muito simpática que trazia uma pacotinho de pipocas doce na mão e essa, comovida com a cena, sobretudo, tentou ajudar. 
- Olha, Isabela, uma pipoca pra você, passe pela catraca... 
Isabela olhou para aquele pacote rosa laminado e por um momento toda a sua opinião foi desmanchada. Seus olhinhos miúdos brilharam e o seu bico de criança chateada se desfez. Mas isso foi só por um instante, no segundo seguinte, ela recompôs toda a sua opinião e não aceitou a pipoca. A moça ainda tentou mais uma vez e acabou corando diante da tentativa frustrada e com tantos olhos diferentes (uma lotação inteira de ônibus) a olhando. Ela, então desistiu, e entregou o pacote de pipocas ao cobrador para ele tentar agradar Isabela e, enfim, fazê-la passar por aquela catraca. A mãe ainda tentou mais uma vez:
- Olhe ai, Isabela! Uma pipoca! Passe... a mulher "tá te dando"... venha comer aqui... venha!
Isabela olhou de relance, com uma cara de quem tá pedindo, por favor, me deixe em paz. E continuou lá. Todos passaram e restou apenas a menina miúda na frente da ônibus. Assim que o veículo começou a andar, ela se agarrou em uma barra de ferro vertical ao lado do motorista, encostou o rosto, muito singela, até, e ficou lá, vendo, agora de uma forma mais literal, a sociedade passar pela frente dela. Aí entrou em ação o motorista que até então estava calado:
- Ei, num pode ficar ai não...
Isabela continuava absorta olhando para o mundo diante dela. O motorista achou que ela não tinha ouvido ainda repetiu umas duas ou três vezes a mesma frase, mas nada atingia Isabela. 
Ao lado do motorista do ônibus havia o motor do ônibus e em cima do volume que era formado por ele, havia umas barras de ferro da mesma que Isabela estava escorada, porém, essas, em cima do motor eram horizontais e serviam de auxílio para as pessoas subirem. A cada parada, Isabela olhava com atenção para a porta, via aquelas pessoas entrarem e olhava para frente de novo. Os novos passageiros que deparavam com aquela cena, apenas olhavam-a e nada diziam. E o ônibus seguia sua linha e a mãe continuava falando por entre os espaços que um dia estiveram os dentes:
- ande, Isabela! "bora vê"! O menina desobediente, viss? 
Falava a mãe dela para uma mulher que estava ao lado.
Foi aí que Isabela apoiou um pé por sobre o volume do motor do ônibus, colocou um braço por cima do outro e apoiou ambos na barra horizontal que ficava em cima do motor e ainda, colocou o queixo em cima do volume formado pelos dois braços. Ficou em uma posição de total dominância, como se tudo na vida dela tivesse perfeitamente nos eixos, como se ela quem dirigisse com sua mente aquele ônibus. Toda cheia de certeza, Isabela se segurava de forma incerta diante de cada curva que vinha pela frente. Ela simplesmente pairava por sobre a cidade. Uma visão bem melhor que TV, agora sim, ela era grande, mais que todos. Era como se toda a sociedade que a oprimia em tantos aspectos, inclusive humilhava e a obrigava a passar por baixo de uma estúpida catraca não fosse absolutamente nada.
Agora que ela tinha ficado de costas, dava para ver que os 3 botões que fechavam o seu humilde vestido tinham caído e agora ele ficava aberto em forma de V na suas costas. E Isabela continuava lá, pairando, desconectada do mundo, como se tivesse voando. O vento que vinha da enorme janela do motorista desgrenhava fortemente os seus cabelos. A cada vez que a porta se abria ela olhava tão enigmaticamente para a porta que eu esperava pela próxima vez que a porta abrisse e ela simplesmente saísse do veículo. Mas isso não aconteceu...
O cobrador e mãe continuaram tentando, de tempos em tempos, mas nada nem ninguém conseguia tirar Isabela do seu universo paralelo.
E eu, feito bobo, olhando aquela cena e me admirando de como aquela criança era tão adulta... como ela possuía atitude. Realmente, a vida deveria cobrar muitas atitudes adultas em muitas ocasiões. Em um determinado momento, a mãe foi mais para perto da parte da frente do ônibus, para uma cadeira que tinha ficado vazia e Isabela foi para a janela ao lado da porta e ficou ali, olhando de outro ângulo aquela hipocrisia que passava diante dela. A mãe gritava:
- Isabeeela, venha pra cá! não coloque a cabeça para fora, Isabela!
E Isabela, sabe Deus pensando em quê, nem sequer olhava para mãe, muito menos para qualquer outra pessoa. Continuava lá, inebriada em imagens, sociedade, ventos e voou. Ainda, em determinado momento, uma menina que estava sentada em uma cadeira que ficava atrás de umas grades que faziam uma angulo de 90º com a lateral do ônibus, ao lado da janela que Isabela estava escorada, se levantou. Essa cadeira é única e não tem nenhuma outra na frente, fica no lado oposto ao do motorista e permite ver praticamente igual a ele o para brisa do ônibus. A mãe, por fim, falou:
- Olha, Isabela, a cadeira que você gosta desocupou, passe, passe! 
Foi aí que tudo fez sentido. Isabela não tinha atitudes daquele tipo de hoje. A liberdade que eu sentia em Isabela, era inata dela. Aquela sensação de que Isabela era uma espécie de passarinho engaiolado em um ser humano não saía da minha cabeça. 
Chegou a hora de eu descer e ela continuava lá, desconectada, absorta, séria e emanando liberdade. Era como se ela estivesse submersa em algo invisível e mágico. Dava para ver nos olhos dela o quão mágico aquilo era.
Ao descer do ônibus cheguei à conclusão de que Isabela conseguia transformar uma simples e curta viagem em um ônibus em um voo ao infinito e certas pessoas, nem voando conseguem se sentir nas nuvens.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nirvana literário

Algum tempo atrás, assistindo àquela fantástica entrevista de Clarice Lispector concedida a um especial na TV cultura, a ouvi falar sobre ficar 'vazia' entre o período que se estende entre uma obra e outra. Acho que cheguei a esse mesmo nível, uma espécie de nirvana literário, não sei ao certo, porém, o que me deixa mais assustado é que nem é entre uma obra e outra é entre obra nenhuma e coisa alguma. Ou talvez não seja um nirvana ou falta de criatividade, mas uma filtragem. Ultimamente, mesmo com minhas férias inaptas, refleti sobre tanta coisa, mas cheguei à controversa conclusão que muitas dessas coisas não deveriam ser escritas, porque sendo elas lidas por mentes desavisadas, sendo elas má interpretadas, tornam-se facilmente armas estranhamente reversas e o tiro pode sair pela culatra. O famoso teste mental a que todos os que escrevem se pegam passando por ele, em alguma época da vida. Não sei, sinceramente o que aconteceu. Nenhum conto, por mais bobo que fosse, nenhuma crônica, nenhum texto no dia dos amigos, nada, nada e nada. Ou até sei, mas assim como os outros textos deixam de serem escritos por causa desse filtro invisível que curiosamente se estabeleceu, talvez esse 'acontecimento' seja ocultado, omisso, segredado. Fato é, que todas as verdades [inventadas, ou não] que tenho 'cantado' nos meus últimos textos, foram postas em xeque. É algo tão estranho, tão dúbio, porque eu tenho milhões de coisas para escrever aqui, tenho crônicas já bem feitas e concluídas , porém não sinto vontade alguma de despejá-las aqui e torná-las algo público. É tão egocêntrico, eu sei. Talvez, sejamos apenas mais um resultado das coisas e esse seja só mais um deles. Meus conceitos estão passando por uma mudança no momento, uma adaptação... 'Tô atualizando o acervo'... em breve os novos textos[por mais espedaçados que sejam] virão.  Espero eu que seja assim. Tô até em dúvida se posto esse ou não. 

Já foi.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Feliz dia dos Amigos!

Melhor que fazer uma postagem autoral sobre esse dia, em homenagem àquelas pessoas tão especiais para todos nós, é achar um texto que fale exatamente o que eu queria dizer. Quero também dizer que essa data é especial demais porque, amigo não é só aquele que não é da nossa família e escolhemos nos aproximar, amigo é  a nossa mãe, o nosso pai, o primo, o vizinho, qualquer um, contanto que seja, de alguma forma, próximo o suficiente para receber essa bela denominação. E a aqueles que sabem a importância que têm para mim, obrigado por tudo! Ai segue o texto:







Os amigos invisíveis:

Os amigos não precisam estar ao lado para justificar a lealdade.
Mandar relatórios do que estão fazendo para mostrar preocupação.
Os amigos são para toda a vida, ainda que não estejam conosco a vida inteira.
Temos o costume de confundir amizade com onipresença e exigimos que as pessoas estejam sempre por perto, de plantão.
Amizade não é dependência, submissão.
Não se têm amigos para concordar na íntegra, mas para revisar os rascunhos e duvidar da letra.
É independência, é respeito, é pedir uma opinião que não seja igual, uma experiência diferente.
Se o amigo desaparece por semanas, imediatamente se conclui que ele ficou chateado por alguma coisa.
Diante de ausências mais longas e severas, cobramos telefonemas e visitas.
E já se está falando mal dele por falta de notícias.
Logo dele que nunca fez nada de errado!
O que é mais importante: a proximidade física ou afetiva?
A proximidade física nem sempre é afetiva.
Amigo pode ser um álibi ou cúmplice ou um bajulador ou um oportunista, ambicionando interesses que não o da simples troca e convívio.
Amigo mesmo demora a ser descoberto.
É a permanência de seus conselhos e apoio que dirão de sua perenidade.
Amigo mesmo modifica a nossa história, chega a nos combater pela verdade e discernimento, supera condicionamentos e conluios.
São capazes de brigar com a gente pelo nosso bem-estar.
Assim como há os amigos imaginários da infância, há os amigos invisíveis na maturidade.
Aqueles que não estão perto podem estar dentro.
Tenho amigos que nunca mais vi, que nunca mais recebi novidades e os valorizo com o frescor de um encontro recente.
Não vou mentir a eles ¿vamos nos ligar?¿ num esbarrão de rua.
Muito menos dar desculpas esfarrapadas ao distanciamento.
Eles me ajudaram e não necessitam atualizar o cadastro para que sejam lembrados.
Ou passar em casa todo o final de semana e me convidar para ser padrinho de casamento, dos filhos, dos netos, dos bisnetos.
Caso encontrá-los, haverá a empatia da primeira vez, a empatia da última vez, a empatia incessante de identificação.
Amigos me salvaram da fossa, amigos me salvaram das drogas, amigos me salvaram da inveja, amigos me salvaram da precipitação, amigos me salvaram das brigas, amigos me salvaram de mim.
Os amigos são próprios de fases: da rua, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da faculdade, do futebol, da poesia, do emprego, da dança, dos cursos de inglês, da capoeira, da academia, do blog. Significativos em cada etapa de formação.
Não estão em nossa frente diariamente, mas estão em nossa personalidade, determinando, de modo imperceptível, as nossas atitudes.
Quantas juras foram feitas em bares a amigos, bêbados e trôpegos?
Amigo é o que fica depois da ressaca.
É glicose no sangue.
A serenidade.

{Fabricio Carpinejar}

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Poesia, músicas, sono e férias


Férias, por mais cansados que estejamos antes delas, no final da primeira quinzena já vai se tornando algo um pouco incomodo, meio agridoce, e termina em tédio [quase sempre]. Incrível. Aquelas férias tão desejadas, se esvaem pelas suas mãos e você se pega desejando voltar as atividades normais. Pois bem, decidi, nessas férias, para sair do ócio, degustar e descobrir novas músicas, ritmos, e outras mais. De fato, me cansei um pouco do bom e velho pop rock. O pop de balada[aquele que fala para as Bitchs descerem até o chão] me cansou um pouco, e, a não ser e dias mais alegres, em nada expressava o que eu queria.
A algum tempo, uma amiga me passou uma longa setlist e muitos CD's completos, que iam do rock, passando pelo indie e terminando na MAB[Música Alternativa Brasileira]. No dia em que a internet me fez o favor de não comparecer na minha humilde residência[desconsiderem qualquer referência à Michel Teló], abri o Mídia Center do Windows e comecei a escutar músicas que nunca tinha ouvido. É incrível ouvir músicas novas, os pensamentos que vêm, as imagens, as lembranças de certas pessoas... música é algo intrigante; você gosta do que você escuta. Simples. Me aventurei então, por novos territórios, digo, músicas. Comecei por Strokes e terminei no épico John Lennon. Ouvi músicas e músicas, inclusive aquelas que eu tinha baixado, mas não tinha o hábito de ouvir.
A primeira música que ouvi do Strokes me cativou um pouco, com um refrão bem 'pop chiclete', mas nada muito viciante... nem lembro o nome da música no momento. O  vício mesmo veio com Oh yoko! - John Lennon. Todos riem, quando conto desse vício, mas essa música transmite uma paz, e faz uma declaração de amor tão humilde, mas tão verdadeira, que me cativei e não consigo parar de ouvir[confesso que um documentário que assistira dias antes sobre Yoko e John ajudou]. Eu citei o vício, mas um dos grandes vícios se chama Pumped Up Kicks , da banda Foster The People. Essa música tem uma pegada que me lembra fins de festa, mas o refrão é grudento, chiclete, pegajoso e cantei ela durante umas 80 horas seguidas. Ouvir músicas novas é como trocar a mobília, comprar roupas novas. Todas essas trazem uma mudança de pensamentos. Outro grande vício se chama Moneybox- Eliza Doolitlle. Uma batida meio jazz, soul, sei lá o que, com uma voz meio Mallu/Amy Winehouse. Enfim, indefinível, mas muito agradável aos ouvidos. Roller Blades também é ótima. Lembra praia, amigos. Sendo mais categórico, todo o CD dela é viciante e tem refrões ótimos.
Me aventurei um pouco pela MPB também, e re-viciei em figuras como Vanessa da Mata. Fique contagiado com a letra da música Pense e Dance do Barão vermelho e reabilitei a Velha infância[quem dera que a minha], dos Tribalistas. Fiquei surpreso ao me agradar por músicas como Ainda Bem e Aquela canção do novo CD da Marisa Monte. A única música que ouvira dela era aquela épica Amor I love you e a achava tão dor de cotovelos que nunca me imaginaria ouvindo ela. Mas o CD dela é impecável e tem tudo de melhor da MPB: composições concisas, melodias agradáveis, participações especiais etc. Já fiz uma cópia para minha mãe.
Coincidentemente, nas minhas viagens pela internet, achei algo sobre o mais recente CD da Mallu e baixei de cara[Deus que me perdoe se pirataria for pecado]. É muito íntimo e é, também, uma resposta clara, de poesias e declarações, ao CD do seu esposo Marcelo Camelo. Logo a primeira faixa, Velha e Louca, já reflete o momento mais maduro da sua carreira: "Pode falar qu'eu não ligo, agora eu sigo o meu nariz". Eu me perguntava porque não existiam músicas brasileiras que tivessem um tom leve como os das músicas do Jason Mra'z ou KT tunstall e esse disco tem refrões do mesmo estilo. Contagiante.
Mas a descoberta do mês foi o cantor Cícero e o seu CD: Canções de apartamento. Músicas com letras simples e profundas, e um ritmo lento, meio bossa nova, meio MPB, meio soul. Ótimo. De cara, a bela música Tempo de Pipa se encaixou perfeitamente como trilha sonora do meu atual momento. Enfim, viciei. E o melhor de tudo, o Cd é gratuito para download no site oficial dele. Passei horas refletindo sobre as letras pequenas, mas não menos grandes que de outros cantores da MPB. Recomendo muito.
Para finalizar, vou colocar um trecho de Tempo de Pipa para servir como aperitivo e motivo para vocês buscarem mais sobre o cantor. Conclusão: não se deixem cair na mesmice, busquem novas músicas, abram a mente para novas bandas, o ócio só existe pra quem vive ele.


Mas tudo bem

O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo
Mas tudo bem
O dia vai raiar
Pra gente se inventar de novo
O que você é, enfim?
Onde você tem paixão?
Segue por aí
Eu não sou ninguém de mais
E você também não é
É só rodopiar
Em busca do que é belo e vulgar
É só rodopiar
Em busca do que é belo e vulgar

[Cícero - Tempo de Pipa]




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nômade comtemporâneo


Estranho foi não saber se eu estava saindo de casa ou voltando para casa.

domingo, 10 de junho de 2012

Lágrimas passageiras


Quando entrei no ônibus, já sabia que não teriam cadeiras vagas. Após passar pela roleta, comecei aquela busca, que todos os bons passageiros de ônibus fazem, atrás de um local para sentar e descansar as pernas. Mapeei do começo ao fim os 40 lugares e, para minha surpresa, tinham mais bancos vazios do que eu imaginara. Optei por um que estava mais ou menos um metro à minha frente, perto da porta, ao lado de uma mulher que estava sentada do lado da janela e que, pela agitação dela, havia subido uma parada antes de que eu havia entrado. 
Quando fui me aproximando, tive uma sensação de asco ao ver aquela mulher. Deveria ter por volta dos seus 35 anos, não era uma das mais gordas que eu já encontrara. A pele dela tinha uma cor característica de pessoas que passam anos expostas ao sol. Pelas feições dava logo para perceber que ela um dia foi branca ou clara, mas a vida a tinha deixado daquela cor. Quando olhei os cabelos, que começavam pretos e terminavam mais claros nas pontas, percebi algo semelhante à uma neve. Caspas, bem maiores do que as que eu já vira na vida e no instante que eu olhei, a mulher levou a mão à cabeça e coçou-a em três rápidos movimentos. Como já havia me encaminhando àquele banco e seria muito 'preconceituoso' da minha parte ir para outro banco por 'nojo' daquela mulher, acabei sentando ao seu lado. Nesse intervalo o ônibus não andou mais que 1 km. 
Sentei com um pouco de receio ao lado da mulher. Pensei logo que ela era nojenta, mal cuidada... Essas coisas que a gente pensa irracionalmente. Percebi, com um tempo, que, mesmo com o minúsculo espaço disponível, eu havia sentado afastado dela, deixando um espaço relativo entre nós.
 A mulher só olhava para fora, com olhar vazio.
 Enquanto ela estava com o rosto virado para a vida do lado de fora do ônibus, continuei a analisá-la detalhadamente. Estava com uma blusa branca, com algumas manchas e tinha uma sacola plástica, daquelas feitas dos piores materiais(de forma que se via pontos mais espessos sobre a superfície acinzentada do plástico), por sobre as pernas com as mão em cima. Em uma das mãos havia um celular vermelho, daqueles mais populares. Mas foi quando eu parei para prestar atenção nas mãos que eu vi como aquela mulher era sofrida. As mãos dela eram mais escuras que o restante do corpo e estavam, de tão ressecadas, com um aspecto brilhoso. As unhas, umas com esmalte, outras não, estavam com um aspecto amarelado. 
Enquanto ela fazia alguns movimentos com o celular e segurava a sacola no balanço do ônibus, a pele dela se encolhia e se estendia de forma que, quando se contraía, forma uma série de vincos de tão ressecada que estava. Parou de olhar a janela e se voltou para dentro do ônibus. Olhou o celular. Aproximou-o do rosto e leu algo que minha vista curiosa não mapeou. Enquanto ela olhava o celular, espiei rapidamente dentro da humilde sacola que havia em suas pernas. Ao que me pareceu, haviam apenas roupas dentro, uma calça jeans, que me parecia ser infantil por ter um bordado de carro, e outras camisas. Deu até para saber que estavam lavadas quando cheiro de amaciante exalou. Quando ela voltou as mãos à sacola, acariciou-a demoradamente como a gente faz quando quer bem a algo. E se voltou para a janela. 
Abaixei-me para ajeitar algo nos meus sapatos, ainda olhando para a janela, e vi uma gota de lágrima escorrendo por sobre o rosto sofrido daquela mulher. Subitamente aquilo me causou um choque, mas continuei com meu movimento e fiz o reparo necessário nos meu cadarços. Pensei que poderia ter sido apenas uma 'impressão' minha. Quando voltei à posição inicial, tive certeza que a mulher estava chorando muito silenciosamente. Parou e olhou o celular novamente. Os olhos inundados por um líquido denso percorreram algumas poucas linhas e lágrimas, pesadas como cachoeiras, despencaram. Fiquei tão perplexo em ver aquilo. Não me venha com lágrimas e promessas, tenho um coração mole mesmo.
Meu Deus, que angústia aquela mulher estava passando? tentei ler algo com meus olhos curiosos no celular, mas nada consegui. Agarrou a sacola com mais um pouquinho de força e olhou o celular novamente... Agora ela estava chorando mais do que a um minuto atrás. Será que foi uma traição? ela ta olhando um SMS... Ou será que algum parente próximo faleceu e ela está relendo a notícia? Ou será que o filho dela está doente? Logicamente essa calça que está nessa sacola é infantil e masculina... cogitei uma possibilidade maior de serem problemas de saúde, pois ela estava indo para a zona norte, onde ficam os mais famosos hospitais públicos e privados. A angústia me consomía. Naquele momento, todos os meus 'pré-conceitos' se esvaíram e eu percebi o quão grotesco eu estava sendo. Ela era apenas mais uma vítima da vida. Ninguém seria daquele jeito pelo simples fato de querer. 
Ela apoiou a cabeça no vidro e olhou o céu. Por alguns momentos vi o reflexo feliz daquele céu azul naquelas lágrimas tristes. Como eu queria dizer algo a ela. E eu juro que ensaiei. Meu Deus, mas o que dizer a uma desconhecida que estava chorando, ao meu lado, no ônibus? Sei lá, e se ela achar que eu estou querendo me meter na vida dela? Tudo pode-se esperar de uma pessoa ferida. Olhei de relance, novamente. Agora ela soluçava baixinho demais para qualquer outra pessoa ouvir, e tirava as lágrimas do rosto com as sofridas mãos. Sabe, eu queria por um momento dizer a ela que não se preocupasse, que por mais difícil que fosse aquilo que ela estava passando, ia dar certo. Ensaiei novamente um texto, mas nada saiu. Fiquei tão angustiado com a impessoalidade daquele momento. A que ponto chegamos? 
Eu queria dizer a ela que não importava o que fosse, aquele ser que estava do lado dela, ao contrário de muitas outros, se importava com ela e, naquele momento, torcia para que tudo dela desse certo, que todas as angústias dela acabassem, que tudo fosse resolvido, que ela pudesse sorrir. Mas não me atrevi a dizer nem meia palavra. Ao ponto que chegamos hoje, falar qualquer coisa a uma desconhecida chorando, poderia ser invasivo e até desrespeitoso, olha só. Que diabo de espécie é essa humana? Morro e não me acostumo com essa impessoalidade urbana.
Mesmo afogado nos meus devaneios percebi que já chegara a hora de descer. Ensaiei pela ultima vez aquelas palavras nunca ditas. Levantei-me, ainda com olhar fixo nela e desci pela porta que estava atrás da gente. Do lado de fora, olhei e a vi através do vidro, chorando ainda mais. Acho que com a minha ausência ela se sentiu mais liberta e se entregou profundamente às lágrimas.
Comentei com uma colega que me acompanhava, enquanto andávamos para a esquina:

- Você viu? aquela mulher do meu lado estava chorando...
- Estava? não vi! você não disse nada a ela? 
- Não. Tive receio de 'me meter na vida dela'.
-Pior que do jeito que o mundo está hoje é o que pode acontecer mesmo.

O ônibus dobrou à direita e passou ao nosso lado na esquina. Ainda pude ver, pela ultima vez, aquela mulher e suas lágrimas passageiras. 


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Momento filosofia do dia


Eis que tem uma criatura, no ápice do seu estresse, estraçalhando uma sacola de papelão e chega outra para apreciar a cena;

- Olha o besta, fazendo sujeira para depois ter que limpar
- A sujeira muito maior ta na sua alma e eu não dizendo nada

Conclusões de bar


Porque eu vejo a vida como uma enorme força, que prevalece sobre as outras, e vai comprimindo tudo. Tirando daqui, colocando ali... Chega a ser cruel, mas no fim tudo fica de igual para igual, uma grande pasta homogênea e comprimida.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Combustão interna




 "Por fora, já desistiu. Por dentro, sempre descobre alguma desculpa para recomeçar."  
Fabrício Carpinejar

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Das folhas




A vida é feita de muitas folhas; jornais, documentos, registros. Eu, particularmente, prefiro aquelas que contém poesia.

sábado, 31 de março de 2012

Entre gaiolas e céus



A maior parte das pessoas é assim. Sonham com o vôo, mas temem as alturas. Para voar, é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Por isso trocam o vôo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.
(Rubens Alves)

sábado, 3 de março de 2012

Realidade encapsulada


Coisas maliciosas e pensamentos ruins em relação aos outros saem da cabeça de pessoas feridas, fragilizadas, que fazem isso como uma forma de vingar involuntariamente o seu sofrimento.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O sonho de Amália


Amália era uma anciã bem desgastada, viúva, com muitos filhos e já tivera uma vida muito conturbada. Sempre foi daquelas pessoas que reclamam ao acordar e ao dormir... Tinha o mal da maioria daqueles que ultrapassam os 60; o desgaste cerebral devido as coisas que passou e a pertinência de achar que sempre estava correta. Por mais que fosse velha e entrevada, mantinha uma rotina de afazeres e reclamações diárias. Acordava bem cedo e passava muito tempo com olhos vazios, na frente do espelho, procurando a Amália que um dia habitou o corpo dela. Quando jovem, nunca foi dessas que aproveitava ao máximo tudo que surgia e esse era um dos motivos de tanta reclamação. O problema é que ela não aproveitou a vida porque reclamava muito e agora reclama porque não aproveitou. Os poucos filhos que ainda a visitam já sabem o que os espera ao cruzar a porta da antiquada casa; palavras amargas de alguém que nunca soube dar o valor correto aos devidos momentos da vida.
A aparência de Amália refletia o seu interior. O cabelo que tinha ficado branco antes do devido momento agora tinha uma cor amarelada, com fios mais acinzentados que realçavam o tom velho e opaco... o cabelo, que começava liso no centro da cabeça, ainda pendia sobre as orelhas em forma de cachinhos e adquiria um formato pontiagudo na nuca. A face era sofrida, os lábio rachados sempre com batons fortes. Rugas escuras e fortes se desenhavam ao redor dos olhos e encobriam a cor única que eles possuíam, a boca sempre estava com os cantos mais baixos como se formasse um parentese. As mãos tinha muitas manchinhas de uma cor marrom que subia para os braços. Nas unhas, várias camadas de esmaltes fortes se sobreponham e tentavam encobrir cantos descascados... o aspecto alto relevo era visível.
O maior desejo dela era morrer. Pedia que raios a partissem, carros a espedaçassem em um cruzamento, seu coração explodisse ou até mesmo que desse um sono pesado e ela nunca mais acordasse... morrer era o que bastaria. Achava que era a saída mais viável, era uma libertação. Muitas vezes escapara da morte e por isso se reclamava, achava que tinha sido tola ao desejar continuar viva quando teve a oportunidade de "partir desta para uma melhor". Entre suas fugas da morte estavam ; doenças, queda de escada, acidente de carro, naufrágio de um barco e outras mais. Todos os dias rezava para que Deus fosse bonzinho com ela e adiantasse seu dia.
Como já estava velha e a noção de higiene que uma dia tivera não era mais a mesma, os filhos se reuniram e decidiram que o filho mais novo iria ficar uns dias com ela. Era solteiro, trabalhava pouco... os irmãos o pagariam também. Trato feito. No primeiro café da manhã expôs a ele todas suas angústias e encerrou o ato teatral olhando poeticamente para o teto, com olhos vazios e pedindo que Deus a levasse dali naquele instante... ainda foi capaz de esperar algum tempo, com os olhos fechados, mas absolutamente nada aconteceu. Se recompôs, e voltou a beber o café amargo como a alma dela. De fato ela já fora destruída muitas vezes e era muito forte... dentro dela, um milhão de pensamentos e lembranças a corroíam e a única válvula de escape para todas essa combustão interna era sua boca. Amaldiçoava-se, tentava desmaiar de arrependimento por não ter feito certas coisas e de vez em quando dizia que seu coração fora embora junto com o seu marido. Falava da dor interminável de ter testemunhado um de seus filhos tirando a vida do irmão e choramingava o fato de alguns dos filhos restantes serem intrigados dela.
Certo dia passou a não sentir as pernas. Não enxergar nada... e uma súbita força exterior pressionar seus pulmões. Tentava gritar, pedir socorro, mas a agonia só aumentava. Começou a estremecer e sentir seu corpo morrendo aos poucos, as pernas, o tronco, até que ficou só a cabeça. Sentiu um lado da cabeça morrer, e piscava os olhos tentando procurar algo além da escuridão. Começo a pular na cama e a fazer um barulho estranho na entrada do pulmões... pulou várias vezes na cama, se debateu por alguns segundos, bateu a cabeça e lembrou do único filho que ainda estava com ela... da dor que ele sentiria... sentiu dor na única parte de sua cabeça que ainda estava viva... e lembrou de um milhão de coisas em um lapso de segundo. Nenhum ar entrava em suas via aéreas e ela já tinha parado de se tremer... a escuridão a puxou.
Respirou fundo e abriu os olhos. Reconheceu o barulho do ventilador ao seu lado e viu que estava em sua casa, na sua costumeira cama. Estava sonhado. Olhou as mãos para ter certeza, sentiu os dois lados da cabeça funcionando... mexeu as pernas... estava viva! que alívio... respirou fundo... e foi capaz até de sorrir. Logo no café da manhã soltou a pérola:

- Meu filho, sabe que não é bom morrer não !?
O filho tirou os olhos de seu sanduíche, parou e olhou perplexo para a mãe.
-Como assim, mãe? Não é o seu maior desejo atualmente?
A velha deu um raro sorrisinho e disse:
-Era... mas ultimamente pensei melhor e morrer não é bom não, viu? Mudei de ideia.
Deu uma respirada bem profunda para constatar o quase perfeito funcionamento dos pulmões.

Passou o dia calada. Desde o depoimento inusitado, o filho achou algo de estranho nela. Varreu o quintal com prazer, lavou o cabelo... vestiu a roupa menos velha... cozinhou um prato que há anos ela não fazia e lembrava a infância dele. Pediu ao filho para ir deixá-la na missa.

- Mas, mãe, você não me disse que detestava todas aquelas velhas mexeriqueiras que iam a missa e por isso não vai mais?
A velha respirou e respondeu:

- É meu filho, e tudo que eu falei está correto. Aquelas velhas são muito feias e fuxiqueiras... mas é por Deus meu filho, é por Deus!

O filho só foi capaz de sorrir. Antes de sair ela passou o perfume de rosas que só usava em ocasiões especiais e, por isso, o vidro estava completamente cheio. Ao chegar na missa, houve um silêncio mortal quando ela cruzou a porta principal de entrada.
Tinham duas velhas encostadas na parede de entrada, com seus guarda-chuvas floridos nas mão e comentaram:

- Ma ma mas mas MAS essa num é a Amália, Joséfa?
- Vixe minha nossa senhora, pois num é mesmo! Não era ela quem rezava pra morrer todos os dias, dizia que Deus era pouco caridoso com ela e já tinha até desistido desse negócio de igreja!?
- Se o espírito não me engana, é ela mesma! Hoje chove canivete!

Amália se confessou nesse dia, rezou 20 Ave-marias, 20 Creio em Deus pai, 20 Pai nosso e agradeceu por Deus ter sido mal com ela todos esses dias e ainda ter deixado ela viva.
Morreu 2 anos depois, após se reconciliar com todos os filhos e ter reformado a velha casa. Nesse tempo, reclamava muito por ter reclamado tanto ao longo de sua vida e agradecia a Deus a nova vida que estava levando.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Meio termo


Não gosto do meio termo. Aliás, só gosto do meio termo se as coisas estiverem mais tendenciosas ao lado ruim. Porque se estiverem para o lado bom, têm que ser intensas e completas.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Protesto mudo


As pessoas têm que aprender a serem mais boas. Têm que aprender a sorrir, a compartilhar a felicidade dos outros com os outros. As pessoas têm que aprender a serem apreciadoras... É uma questão de ser humano.
O problema de muitas pessoas é que elas não sabem apreciar aqueles momentos mágicos da vida. Há tanta coisa especial acontecendo...
Muita gente compartilha a dor e esconde a felicidade. Ser feliz sozinho é patético... é a mesma coisa de não ser feliz... As vezes, dói ver alguém 'fazendo questão' de ver os outros felizes, de compartilhar a felicidade. Em épocas de Facebook, compartilham qualquer desgraça, mas ainda não sabem compartilhar a felicidade.
Está tudo errado. Muito errado. Ultimamente pessoas viraram produtos, que agregam marcas e estampam o que tem.  Faz-se questão pelo amor, e dizem que amam a cada meio segundo. Amigos se vão como roupas. Felicidade só existe para ser mostrada. Me fazem, antes de eu ser. Valores só existem em bancos e bolsa de valores. A principal preocupação de muita gente é subir a Hastag do momento e chamar a atenção do mundo. Ser fútil é a lei. O que é isso?  amostra grátis de inferno?
A coleção de mágoas, hoje em dia, é maior que a de desejos. Ferir as outras pessoas se tornou apreciável.
As doces lembranças restantes são levadas por formigas. Estamos deixando para trás o que éramos... não percebem que estamos errando? não percebem que há muito já falhamos na nossa missão? Estamos inutilmente adaptados a esse mundo covarde... estamos vestindo uma armadura que está nos deixando cada vez mais sérios... nós não somos isso, definitivamente.
Eu conheci as pessoas melhores, eu tenho certeza. Criamos uma coisa para a gente ser. Criamos esse caos.
Criamos esse estilo de vida patético em que perdemos muito tempo construindo coisas para sermos felizes e esquecemos de utilizá-las. Estamos vivendo sem viver... estamos passando pelo nosso momento. Estamos desejando a velhice e travando um luta contra ela. Construímos uma espécie de amor inacessível e um estilo de  vida utópico. Criamos algo impossível de ser alcançado e perdemos muito tempo nos reclamando por isso. Estamos vivendo sem um sentido certo... estamos vivendo, apenas... repito, há algo muito errado nisso.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

De você



É tão difícil achar outra parte que complete,
a tão solitária, nossa parte
Mas eu achei você, garota
Estávamos alto quando te achei, 
ou quando nos achamos, não sei
Um susto que era pra ser mortal, 
me fez saltar para uma nova vida
Mas foi somente na noite perfeita, 
no clima perfeito, que ocorreu; 
Encostamos um o coração no outro,
e sem querer fizemos um pacto, 
firmamos inconscientemente um traçado de destinos...
Não vou deixá-la fugir assim.
Quando eu te quis, não quis só você.
Quis todas suas manias, suas raivas, 
seus chamegos, você é isso.
Minha parte solitária agora se acostumou a andar,
nos difíceis caminhos, acompanhada...
somos isso; Cumplicidade. 
Amigos antes do amor, irmãos pela união.
Não esqueça garota... 
não vou deixar você ir assim. 

sábado, 28 de janeiro de 2012

Piscina



O sonho de todas as crianças, e até adultos, é ter uma piscina em casa. O azul característico, a calmaria e a similaridade com um 'pedaço' de mar em casa é um daqueles desejos compartilhados por muitos. Mas a construção de uma piscina não é lá uma das coisas mais fáceis... Exige local, espaço e muitos detalhes para que o resultado seja o esperado. E quando é construída proporciona momentos únicos de felicidade e prazer... Uma piscina é capaz de reunir uma família inteira, de atrair amigos novos, de elevar seu 'status' e até de arrumar um amor, olha só. Se você quer dar um 'up' na sua área de lazer, construa uma piscina... É bonita e ainda traz de brinde amigos e amores.
Mas do que eu tenho medo mesmo, é das personalidades "piscinas". Elas possuem todas as características comuns à uma piscina... São atraentes e divertidas inicialmente, mas com o tempo desgastam e secam. Aquele fato típico de uma piscina: começa o dia cheia e após ser útil no que poderia ser, termina o dia mais seca, quase inútil. Não acaba aí: piscinas trazem bons frutos, mas são demasiadas perigosas. Quem nunca jurou que a piscina era rasa e ao se jogar nela procurou o chão e não achou? Pessoas 'piscinas' têm essa péssima mania também, nos jogamos intensamente nelas e não achamos nada que nos apare: acabamos nos afogando.
Outra coisa que ajuda na semelhança de pessoas e piscinas é a incerteza do que te espera. Experimente saltar em uma piscina no escuro: conhecer pessoas é da mesma forma. Tem aquelas pessoas que são tão similares a uma piscina que possuem até aquele desnível proposital para o exato perfil do utilizador. "Rasinha" para iniciantes, "média" para aqueles traquejados e "profundas" para aqueles que atingiram o nível máximo e são capazes de conhecer elas como são realmente... Múltiplas caras. Ah, e aquelas piscinas artificiais? Da mesma forma que existem piscinas de plástico, que ressecam ao sol, existem pessoas de plástico também. Essas não resistem ao tempo como as outras e acabam ressecando, perdendo o brilho e rachando. Essas piscinas de plástico são, por vezes, forçadas... Têm formas estranhas, volumes estranhos... E acham que são as melhores. Precisa dizer que existem pessoas assim também?
Pessoas, assim como piscinas, encardem, criam lodo, desbotam... O tempo atua de forma mais intensa em quem deixa ele atuar. Existem aquelas piscinas que, de tanto serem usadas, ou não serem usadas, talvez, racharam e perderam suas utilidades... Eu evito ser uma dessas.
Mas as pessoas serem semelhantes à piscinas é aturável... Triste mesmo é quando os amores são semelhantes à piscinas. E olha que, de natureza, amores possuem o mesmo ciclo de uma piscina: surgem, são bonitos, trazem felicidade intensa, chamam a atenção, decaem, racham, perdem a utilidade e em um determinado dia, são enterrados... Ah como é triste enterrar amores, enterrar piscinas. Aquilo que era para ser uma felicidade eterna tem seu fim e após uma difícil e dolorosa decisão, é enterrado, apagado do presente. Piscinas e amores enterrados são felicidades falidas. Não se enganem... Todos temos as características de piscina, todos já tivemos amores semelhantes à piscinas... E um dia, seremos uma felicidade falida também.


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

domingo, 15 de janeiro de 2012

A arte


Uma das coisas mais impressionantes que podemos presenciar é a capacidade criadora que o ser humano possui. Ela é tão impressionante que um ser pode criar um mundo só seu e ser feliz sozinho... já que é isso o que basta: sermos felizes para nós mesmos.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Discurso

Entre as muitas coisas importantes que tem acontecido na minha vida ultimamente, terminar o 3º do ensino médio tem total destaque... e esses dias aconteceu a festa de término de curso em que eu fui o orador da turma. Não sei se consegui passar a emoção que eu queria e se ficou bom o suficiente no momento, mas aqui está o discurso na íntegra para quem quiser, relembrar.





(Fotos de alguns da turma, com o máximo de pessoas possível, pra não restar queixa né Brunno? HUISHUSAHI)

Recentemente, ouvi a frase: “Amigos são aqueles que desafiaram a genética para fazer parte da nossa família”. E foi exatamente isso que aconteceu nessa sala. Todos nós passamos um ano muito difícil e ao mesmo tempo muito bom de viver. As únicas coisas que tínhamos eram incertezas: Incerteza se o ENEM seria difícil, se nós íamos passar, se tudo ia acabar bem, se ainda seriamos amigos após longos anos. Todas essas dúvidas resultaram em uma pressão de tamanho inigualável em cima de nós. Usando a física e pegando a fórmula da pressão (P= F/A), descobrimos que se todos nós nos juntássemos a área pra essa força ser aplicada aumentaria muito e, assim, cada vez a pressão diminuiria. Foi assim que fizemos, nos juntamos, e superamos todos juntos essa fase tão complicada de nossa vidas. Consolamos o choro de alguns, e choramos juntos. Comemoramos a vitória dos nossos amigos, mesmo não tendo um bom desempenho nos simulados, e eles comemoraram a nossa superação. Desafiamos literalmente o tempo e a genética e nos tornamos uma família. Família essa que surgiu na 5º série. Na verdade esse “quebra-cabeça” começou a ser montado na 5º série e ainda está sendo montado. No início eram algumas poucas peças, transparentes e sem forma definida. Com o passar do tempo peças avulsas foram chegando, dando cor e forma a esse quebra cabeça que hoje está ai e juntos formamos esse mais perfeito painel da vida. Nessa montagem existe uma pecinha para cada pessoa que tem parte na nossa história, e muitas peças especiais para cada momento que vivemos.
Existe uma peça que é bem tensa e agitada que cheira a infância, e ela representa o primeiro dia de aula. Existe uma peça que tem a imagem de umas mesinhas, uma pequena sala dividida em grupos, no ginásio, e uma primeira feira de ciências juntos. Existe uma peça barulhenta cheia de pré-adolescentes e representa a sexta série, um dos anos mais engraçados. Nessa mesma peça, tem um canto bem reservado que tem uma disputa enorme entre dois grupos da segunda feira de ciências: Cruzadas [versus] Superstição ou sobrenatural. Existe uma pecinha, muito hilária, que tentou ser o Harry Potter e com a ajuda das amigas voou de cabeça tentando atravessar a porta, né Alana? Tem outra peça, que representa a 7º série, com umas cinco garotinhas dançando em cima do balcão da cantina. Ah, existe uma peça enorme e caótica que representa o 9º ano, uma sala, com mais de 40 alunos, que pouco se importavam se tinha alguma responsabilidade a cumprir. Ainda temos muitas peças desse quebra-cabeça com nossas histórias dos 1º, 2º e 3º do ensino médio. Quem não se lembra das aulas com o mestre Matias? E os interclasses? As provas assombrosas de Ari? E aqueles recreios enormes do nosso 2ºano?
 Só o 3º já preencheria um quadro inteiro de tantos momentos especiais. É impossível lembrar do nosso 3ºano e não vir a cabeça os funks e composições de Roberto, Sabrina e Weydna. O mascote eletrônico da sala: o Nitendo DS de Eudório.  A camaradagem de Túlio e Gyrley. A piadas de Rian. Os ataques de Letícia. A proficiência de Ádilla com o data-show. O falatório de Vanessa.  Bruna Girão de Chapéu e protetor solar na aula para se proteger dos raios maléficos das fluorescentes.  
Com o tempo, mais e mais peças chegaram, e hoje estão todas aqui. Mas, espere. Tem uma peça que sempre foi calada, que grita para outra peça muito agitada: Não DÁ! Não DÁ!
 E agora, nesse momento, está sendo colocada mais uma peça nesse painel: nossa tão esperada festa de término de curso. Vale ressaltar que não é a ultima, pois esse quebra cabeça vai está em construção para o resto de nossas vidas, não importa se as peças continuarão a construir essa história separadamente.
Enfim, chegou a hora de ser gente grande. Simulamos a vida e as imprevisíveis emoções durante muitos anos no colégio. Fizemos uma prova que recebe o nome de ENEM e que possui um subtítulo: Ensaiando para a vida. Agora chegou de verdade a hora de sairmos dos ensaios e começarmos o espetáculo. Esse é um momento impar nas nossas vidas, onde a estrada que caminhamos até agora, finalmente chegou ao final e nesse fim, possuem infinitas possibilidades de novos caminhos. E é por isso que é um momento tão difícil e ao mesmo tempo tão bom de ser vivido. É bom pelas inúmeras possibilidades que podemos seguir daqui pra frente e difícil porque temos que fazer escolhas que podem mudar de forma definitiva nossas vidas...  Nós somos muito novos para fazer escolhas tão definitivas... Embora esse momento exija escolhas e atitudes, nós estamos no período que devemos ‘viver’, e só. No meio de nossa adolescência tivemos que estancar o fluxo de liberdade, nos privar de momentos únicos, estudar como loucos e correr contra o tempo para nos garantir um futuro melhor. Não temos uma experiência contável para as escolhas, e o para sempre, é muito tempo. Quem sabe se eu escolhi ser dentista e quando eu tiver maduro, depois de 20 anos de profissão, eu descubra que o que me faz feliz é ser professor de literatura? E se eu trocar os dentes por Camões? Né Ana Remígio? Nós nunca exercemos essa profissão que escolhemos ser no fim do colegial, como sabemos se é isso que eu quero mesmo para o resto da minha vida? Os sábios dizem que a vida é feita de escolhas. Discordo profundamente deles, eu acho que a vida é feita de experimentação. Só vivendo para saber se aquilo é o que queremos ou não. Por isso, a partir de agora devemos acima de tudo viver. Ensaiamos durante longos anos e não podemos passar por essa efêmera existência de forma sutil e apagada. Só temos uma única vida, uma única chance de realizar todos os sonhos, e de mudarmos o mundo para melhor. Temos que fazer valer a pena. Temos que lutar por nossos objetivos, impor metas nas nossas vidas, e superá-las cada vez mais rápido para superar outras metas que virão. Temos a responsabilidade de, daqui para frente, sermos fatores de mudança para um mundo melhor. Temos que viver ‘sedentos’ por vida. Somos jovens... já dizia Renato Russo que temos todo o tempo do mundo. E isso pode até não ser verdade... Mas temos tempo suficiente para viver a vida que desejamos viver. Podemos mudar o contexto que estamos inseridos, podemos inventar nossos sonhos e torna-los realidade. As dificuldades existem para tornar mais deliciosa a vitória. E acreditem... se não foi agora... Deus guarda coisas especiais para todos nós e em um determinado momento, elas aparecerão.
 Antes do fim, devo meus agradecimentos em nome da turma a todos que fizeram parte da nossa trajetória.  A Deus, em primeiro lugar, que permitiu chegarmos até aqui e tornou realidade nossas ideias  e aos nossos pais que sempre fizeram um esforço enorme, deram tudo de si, se esforçaram tanto quanto a gente para nos colocar em um bom colégio, e nos ver felizes e ,por fim, concludentes.
 Ao longo da nossa vida estudantil nós descobrimos que existem professores comuns, mas existem aqueles que são forças que te impulsionam a ir pra frente, que te dão esperanças, que fazem você enxergar muito além do que pode ver. E são esses que merecem o real título de professor. Muito obrigado a todos vocês que contribuíram com nossa formação e nos ajudaram sempre que precisamos. Não posso deixar de agradecer a nossa coordenadora Milena, que sempre soube com muita perspicácia colocar juízo aonde jamais existiu e a guiar duas turmas de vencedores com muita segurança. E também ao nosso professor de redação Zé Lima, por ter tido tanta paciência conosco, ter nos ensinado tanto, em tão pouco tempo e ter feito a gente rir em momentos tão tensos com suas histórias e a coluna do José Simão: Bueemba, Bueemba, macaco Simão urgente! Zé lima fica tão orgulhoso de alunos que tem uma crise de outdoor intensa! Não posso deixar de mencionar professores como Goretti, que esteve sempre nos colocando nos trilhos. Clériston que infelizmente teve que se ausentar, mas voltou para nos chamar de meus amores.  Aurélia que sempre soube dizer as palavras corretas nos momentos corretos. Washington que sempre teve a coragem de soltar o verbo e mostrar a realidade tal e qual como ela é pra gente. Napoleão, Nildim, Júlio e Hélio que nos fizeram ter uma melhor visão de mundo. Eliane, Fabiano, Marcos e o Rômulo que mesmo nos ensinando por pouco tempo foi o suficiente para aumentar nossa bagagem de conhecimento. Os mestres da física: Júnior, Fábio, Vládson, De Assis, Marcelo e Eliúde que quase fizeram milagre. Os feras da matemática: Adriano, Maurício, Wellington, Lenine e Ari (que bom que você veio). Wallace e Estelina, que nos ajudaram até em outro idioma. Ana Remígio e Nádia que implantaram uma mentalidade de universitários em nós. E um muito obrigado ao Padre Pitombeira, que até este ano lecionou e deu ótimas aulas de espanhol para nós. Muito obrigado, novamente a todos esses citados! Vamos carregar para o resto de nossas vidas os bons exemplos de camaradagens e os ensinamentos que vocês nos passaram. Entramos no colégio como crianças e saímos maduros, com muitos exemplos a seguir.
Portanto, para todos os vencedores que assim como eu chegaram até aqui, boa sorte na vida, que sejamos todos bem sucedidos não importa fazendo o quê!  A partir de agora vamos prometer a nós mesmos que vamos fazer tudo da melhor maneira possível, não importa onde seja ou qual profissão estejamos exercendo. Devemos ser o melhor naquilo que vamos fazer.  E que nós não deixemos ninguém, jamais, tirar a nossa vontade de viver e de realizar nossos sonhos!  Obrigado, vocês fizeram parte de minha vida valer a pena.
Para finalizar, trouxe essa frase:

“Você pode desperdiçar sua vida construindo barreiras e fronteiras, ou então você pode viver ultrapassando-as. Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas. E aí vai o que eu sei: se você estiver disposto a se arriscar, a vista do outro lado é espetacular”.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Feliz aniversário contemporâneo


O horário já era chegado e os convidados começaram a aparecer. Amigos, familiares e amigos de amigos. A pomposidade da festa, que era pra ser simples, era vista de longe. Era pra ser uma coisinha de nada, "pra não passar em branco", como dizem os mais velhos, mas logo na chegada se via que era impossível ser simples. Tudo em cores róseas, como todas as garotas sonham. O bolo cheio de requinte, com centenas de detalhes feitos à mão davam um luxo à mesa, que junto aos docinhos mais modernos que se pode existir fechavam o visual "básico" e elegante que foi propositalmente pensado para a festa.
A família estava toda reunida. Do mais velho ao mais novo, todos participando da hipocrisia coletiva. Passavam na frente da mesa da aniversariante e olhavam-na, apenas, sem mais para o momento. A mesma família que passara o ano inteiro colhendo os frutos do trabalho dela, dominando-a e controlando-a, agora, fazia um festa para selar com um momento perfeito, a convivência "perfeita" que a família tinha. Os tios que passavam o ano colocando-a nos trilhos que eles construíam e regrando cada ato dela, nas frente dos convidados pareciam ter saído dos sonhos. Tudo se resumia a uma perfeição.
Os outros convidados se resumiam a amigos (os que resistiram a represália da família, claro) e aos ex-namorados, ex-quase-namorados e, quem sabe, futuros namorados, afinal, quando se mergulha no mar negro e intenso dela, é difícil se desprender de algo tão forte. Todos eram sorrisos. A mãe era pouco pra dar a atenção que ela queria dar, tudo para fazer a filha o mais feliz possível. Mal sabia a mãe, que felicidade não é algo pra querer oferecer de uma vez, violentamente, e sim um pouquinho todo dia. Já os convidados nem imaginavam que por trás de tantos sorrisos da menina, havia um rio de lágrimas.
 Ela, a estrela da noite, estava vestida em cetim importado e com um sapato de um salto altíssimo. A menina teve tantos sonhos atropelados, tantos desejos simples violentamente negados, tanto sofrimento imbuído em uma só vida, que aquele momento em que todos paravam e pareciam, ao menos, sentirem-se feliz com a sua medíocre presença fazia uma pontada de alegria, daquelas mais singelas, surgir em seu peito.
Mas foi na hora do famoso parabéns que aconteceu.
Ela estava rodeada por todos no meio da sala, atrás da enorme mesa detalhadamente elaborada para ela e do gigantesco bolo e foi olhando incisivamente nos olhos das pessoas presentes uma a uma, os sorrisos...
E, num lapso, ela teve um 'insight' e o coração deu uma batida muito forte. Um turbilhão de imagens vieram a sua mente de uma só vez. Todos os sofrimentos a que ela foi submetida durante a vida foram estampados bem a frente dela, como se fosse um cinema. Os choros, o trabalho doméstico interminável, as inúmeras proibições estupidas. Os pés dela tremeram brevemente e, nesse momento, a imagem da briga terrível que ela teve com a mãe, dois dias antes do aniversário, vieram a sua mente. A frase dita com todas as palavras: "EU criei você, EU mando em você, e VOCÊ me deve isso!" ecoou na sua mente com um efeito devastador. A pulsação estava frenética e os dedos trêmulos. Mais imagens execráveis foram lembradas: o desprezo que certas pessoas a davam, a ausência do pai, a adoção e desapego da mãe biológica ao dar ela, a sensação de ser inútil, a lembrança dos falsos aniversários anteriores, das inúmeras fotos que a turma de amigos possuía sem ela devido ao cárcere que ela vive.
Uma lágrima foi projetada no seu olho e a deixou com a visão manchada. A lágrima não chegou a escorrer, e nem ela deixaria, iria borrar a maquiagem.
 Depois de duas longas respirações e uma sensação de desorientação, ela começou a sentir percorrer no seu corpo um sangue frio. Aquele mesmo sangue que percorreu ela todos os dias de raiva e choro. Uma sensação prazerosa e estranha a preencheu. Ela já sabia de tudo. Como ela foi burra! Tudo levou-a a essa conclusão antes e só hoje ela percebeu conscientemente o quanto é tola! O corpo dela sabia, mas ela não sabia! Todos sabiam menos ela! Um instinto voraz e enlouquecedor de querer se jogar em todos, rasgar a  caríssima roupa acetinada, partir aquele bolo a pontapés e gritar a percorreu, mas ela controlou-se.
A sensação de alívio continuou a existir no seu corpo e foi nesse momento que ela virou todo o jogo.
Ela percebeu intuitivamente o quanto é forte e batalhadora. A pulsação que antes já estava forte, agora, chegava a uma frequência quase anormal. Meu Deus, como ela aguentou aquilo? Ela percebeu que era mais poderosa do que todas aquelas pessoas juntas. Outro jorro de lembranças vieram, mas dessa vez, dos momentos em que ela superava o trauma. Ela lembrou do momento que estava enxugando as lágrimas em frente ao espelho e passando um lápis nos olhos tão preto quanto o luto que ela estava pela sua adolescência matada, lembrou de quando decidiu se dar uma abraço, sozinha, para ela ajudar a ela mesma a superar tudo, lembrou das inúmeras vezes que ela disse a si mesma: "Não chore, um dia, você vai dar a volta por cima!"
Um estranho poder a percorria e ela quase que podia vê-lo emanando magicamente dos seus membros.
Nesse exato momento, a vela acendeu e a pessoa que esteve tentando acendê-la durante esse intervalo de tempo se afastou para dar espaço a ilustríssima aniversariante e um coro começou com a canção de parabéns.
Algo começou a tremer dentro dela, veio das entranhas, e se propagou como uma risada deliciosamente estérica no ar. Poucos ouviram a maliciosa risada, sob a voz de todos, enquanto cantavam parabéns. Ela sabia o quanto era explorada e o quanto todos eram falsos, mas ela era mais forte do que todos juntos e, agora, ela sabia disso.
Enquanto a canção do parabéns soava cantada pela voz uníssona de todos, ela simplesmente sorria e olhava para as próprias mãos abertas em frente aos olhos percebendo aquela magia saindo de sua pele. Que se danassem as fotos! Nunca ela foi tão feliz em toda a sua apática existência. O brilho nos olhos dela era contagiante. O pensamento fixo em sair definitivamente daquele local e abandonar aquelas pessoas e a certeza de que faria isso, custasse o que custasse a fazia sorrir mais e mais. Toda essa revolução interna merecia ser loucamente comemorada, pensou! E foi ai que ela percebeu que estava em uma festa, ou melhor, na PRÓPRIA festa! Nesse momento ela levantou a cabeça rapidamente, deixando os cabelos lisos volumosamente bonitos e ressaltando bem o batom vermelho, soltou os sorrisos mais sinceros da vida dela para a câmera e comemorou vigorosamente a sua existência por toda a festa.
Para as outras pessoas presentes, aqueles sorrisos e aquela felicidade violenta não passavam de uma "alegria de aniversariante", já pra ela, aquilo era, simplesmente, a porta de entrada oficial para a vida.

Fato à parte: esse foi o ultimo dia que as pessoas presentes viram a aniversariante.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

O sabor da inconstância


Gosto do mar. Da inconstância das ondas, dos ventos e do degradê de cores no céu nos diferentes períodos do dia. Tenho em mim o espirito da mudança e acho que até mudar constantemente é perigoso... uma hora as mudanças se tornam constantes e esperadas.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Desquite



Tô deixando pra trás tudo que me atrasa. Todos os sorrisos e atitudes falsas, todos os esteriótipos. Deixo com eles, de brinde, aquelas pessoas que os possui... e se quiser levem, também, as outras pessoas que são "dignas" dessas "qualidades". Aproveite e leve também o politicamente correto hipócrita, a inveja e todos os sentimentos controversos que tem em relação a mim. Não é porque nós, seres humanos, nos acostumamos com certas coisas que devemos passar o resto da vida com elas. Chega uma hora que até o dono do circo não o atura mais e a palhaçada encontra o seu fim. E digo mais, aquilo que nos faz mal não faz falta, proporciona alívio. Perdoo aqueles que sabem que o fizeram comigo. Só peço que, simplesmente, não tentem voltar atrás... eu não mereço. Não gosto de arrependimento. Faço tudo para não o sentir e ,de vem em vez, quando ele aparece o dou a atenção necessária e faço o possível para esquece-lo. Portanto, sinta-se livre da gaiola. Não me deve absolutamente nada... mas por favor... não esqueça de levar o que eu pedi.