quinta-feira, 7 de julho de 2011

PARTE 1 -


 Foi em um dia daqueles que dá tudo errado que Eric já levantou-se atrasado para ir a universidade. Era quase corriqueiro o sono debruçar-se sobre ele alguns minutos após o despertador soar, mas ele ainda não se acostumara com essa ideia. No caminho para a universidade foi transformando tudo em poema, tudo era notável, e tudo daria um bom conto. Fones nos ouvidos, e músicas leves para começar o dia.
Como o sol estava forte e suas pupilas ainda não haviam se acostumado com a recente iluminação, usava uma das mãos para proteger-se minimamente dos raios. E foi nesse momento, entre uma travessia de rua e a sua subida na calçada que Eric, aturdido pelo sol e com uma mão a sua frente tropeçou em uma garota que abaixara-se para fazer algum reparo no salto. Pronto. Tropeço, corrida, falta de equilíbrio, olhos fechados, chão, livros espalhados e uma pessoa ofegante no chão. O barulho citadino ajudava a dar uma trilha sonora para aquela cena.
Essa é só mais uma. Pensou ele. O céu azul acima de sua cabeça o dava uma sensação de paz. Paz essa que foi interrompida com uma enorme quantidade de perguntas vindas dos curiosos que juntaram-se ao seu redor. Quando bem achou que poderia ir embora, lá vinha uma garota, o apontando com um dedo e com os cabelos levemente desgrenhados. Ela era morena, estatura mediana, cabelos curtos, vestida elegantemente e com as bochechas tão vermelhas, que o formato do seu rosto assemelhava-se ainda mais com um coração. Ele pressupôs que a vermelhidão dela era de raiva, e estava certo. A garota lhe jogou um jato daqueles de palavras, e os períodos formados por elas se alternavam entre lições de moral e vontade de manda-lo para o hospício. Enquanto ela o inundava com palavras, ele apenas a olhou admirando sua beleza. Silenciosamente ele andou alguns passos atrás, abaixou-se e pegou os livros da garota que estavam no chão e a entregou, sorrindo. Ela, nocauteada com a gentileza de Eric, apenas se calou e recebeu os livros boquiaberta. Sem tempo para apresentações e beijinhos no rosto, despediram-se e continuaram as suas trajetórias.
Quando Eric sentou na cadeira, abriu um de seus livros logo percebeu algo estranho. Coraçõezinhos, adesivos rosa pink, e a frase escrita com canetas coloridas: Este livro pertence a Linda S.
Mais abaixo uma foto que não o deixou enganar, era a garota brava com quem havia "esbarrado" mais cedo. E ela estudava na mesma universidade que ele, e cursava o mesmo curso, porém ela já no segundo semestre e ele ainda no primeiro. Pensando como destrocaria os livros e como teria coragem de olhar de novo para aquela maluca escabelada e com vontade de tirar os rins dele, a saída mais viável foi deixar o livro com o professor, que pediria o dele em troca, e estava tudo certo.
Durante a Aula desse dia, Eric rabiscou alguns poemas, iniciou alguns contos, riscou seu nome de diversas formas, mas apenas um poeminha ele considerou proveitoso e o destacou de maneira tortuosa de uma folha de papel. Guardou-o e ao fim da aula, conversou com o professor, explicou o incidente e o professor levou o livro para Linda.
Livros destrocados, no dia seguinte Linda abriu o livro e foi conferir se nada havia de errado com ele, e começou a folhear, e... rapidamente um papelzinho branco passou. Percebendo, Linda voltou mais devagar e pegou-o. Era o bendito poeminha que Eric havia escrito na aula. 4 frases, poucas palavras, tudo muito econômico, inclusive a qualidade. Mas quando Linda leu aquele humilde e romantiquinho poema, algo aconteceu com ela: Coração acelerou, sangue pulsou na nuca, artérias dilataram e retraíram em um instante, dopamina, feniletilamina e ocitocina(substâncias responsáveis pela paixão) foram rapidamente ativadas. Linda não sabia, mas inconscientemente já estava apaixonada. 

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