quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Calçamento na comunidade



Já é comum, no interior do Ceará, quando uma pessoa aparece com muitos produtos iguais e possuidores de certo valor, as pessoas perguntarem: aonde foi que o caminhão virou pra você pegar isso?

 Dia 6 de setembro, véspera da comemoração da independência brasileira que nunca houve. Por volta das 18:40, escutou-se um estrondo. Como a comunidade distribuía-se ao longo da rodovia, praticamente todos ouviram. Um grupo de curiosos saiu a calçada para ver o havia ocorrido. Outro casal aqui, uns velhotes acolá, e foi então que veio a notícia: Um caminhão tombou na curva. Foi o bastante. Enquanto 3 rapazes já haviam chegado ao local, uma multidão de pessoas se dirigiam para lá como se fossem os fervorosos fiéis que vão à Meca. Um dos rapazes "resgatou" o motorista enquanto os outros dois davam uma ajudinha às leis de Newton para terminar de abrir um furo na lataria do caminhão. Veio o susto. O caminhão estava carregado de calçados de marcas renomadas! Se você já havia imaginado gente nesse local na comparação anterior à Meca, multiplique esse número de pessoas por 100. Todos queriam levar pares de sapatos para casa. Chegaram motos, bicicletas, carroças, e por mais incrível que pareça, até o carro da funerária que passava por esse local nesse instante, com um defunto dentro, serviu para levar os produtos. Caixas e mais caixas de sapatos foram saqueadas. Outro susto. Havia camisas de grandes times brasileiros e oficiais! Mais uma dezena de pessoas chegaram no local. E por fim, a conclusão final: Haviam mochilas de marca também. As dezenas de pessoas que trabalhavam fervorosamente no transplante de estoque (eufemismo, para não dizer roubo) estavam a mil. A rodovia é de asfalto, mas o tumulto de gente ao redor era tanto, que a poeira impedia as pessoas de ver umas as outras e a própria carga.
Alguns minutos depois do início do transplante de estoque (eufemismo), chegou a polícia e a algazarra em fim diminuiu aos poucos, até acabar. Ninguém mais podia tirar nada! Quanta revolta deu naquela comunidade.  Mal eles podiam comprar chinelos, vira uma carrada(como chama o bom interiorano) de sapatos e eles são impedidos de pegar.
Seja por ironia do destino ou não, nessa mesma comunidade estavam sendo realizadas obras para colocar paralelepípedos nas ruas, do qual esse conjunto de pedras prismáticas reunidas recebem o nome popular de calçamento.
No dia 7 de setembro a comunidade amanheceu literalmente calçada. Durante toda a madrugada os últimos esperançosos de conseguir pegar algo foram ao local, e de manhã, não havia uma casa se quer da comunidade que não tivesse uma caixa azul, com um sapato de marca dentro. Não se falava de outra coisa na comunidade. Quem não conseguiu ir pegar no local, os vizinhos faziam o favor de dar 3 pares para cada membro da família. Nas calçadas havia , venda, doação, trocas inusitadas, e negociações de todas as formas. Não era difícil se ver uma pessoa trocando um par de sapatos por um Kg de carne, ou por qualquer outra coisa útil.
No decorrer do dia o mercado esquentou, e da mesma forma como ocorre com as ações nas bolsas de valores, a grande procura, inclusive de comunidade vizinhas, fez o preço dos sapatos aumentar potencialmente. Até os grandes donos de lojas das comunidades vizinhas foram ao local comprar lotes inteiros, por preços medíocres, para vender, sem nota fiscal, claro. Na noite do ocorrido o preço era vintão! na manhã, cedinho, foi 25, ao se aproximar meio dia era 40, à tarde foi 50 e ao anoitecer com 150 reais você comprava um bom par de tênis. Ouvi um carinha falar:
-Nunca mais compro havaianas na minha vida. Agora só vou usar tênis. Nunca comprei nenhum par pra mim, agora tenho 12, um de cada modelo.
Quando o amigo passou na rua ele gritou:
-Se liga nos meu calçante!
e apontou para o par de tênis que estava nos pés dele e devia valer uns 300 reais.
Talvez os donos dessas marcas de sapato não saibam, mas em um dia, injetaram na comunidade dinheiro o suficiente para muitos pagarem suas dívidas, e ajudaram muitas famílias carentes a comprarem o alimento diário, e até mensal, e melhor ainda, evitaram, não sei por quantos anos, o aparecimento de dores na coluna de toda uma comunidade. Encerrando com uma frase que minha mãe costuma falar: Não há um mal que não traga um bem.

2 comentários:

  1. Olá Rodolfo
    Vi seu blog no orkut e fiz questão de ler do início ao fim do post. (falo isso porque sei que tem muita gente que não lê posts grandes rsrsr)
    Olha, eu não concordo com esse negócio de saquear mercadorias de caminhões tombados na estrada, mesmo que tenha trago coisas boas a comunidade. Isso acontece muito aqui no Rio também, principalmente com carga de bebidas, volta e meia acontece aqui perto de casa num "S" do senna que tem aqui perto. O post está muito bom mesmo, gostei muito das aspas na palavra resgatar o motorista rsrsrs. Seu blog é muito bom.
    grande abraço
    até mais
    fernu...7

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  2. Muito bacana teu blog, parabéns pelo início.

    to te seguindo, segue de volta e comenta?

    www.luliskd.blogspot.com

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