segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Estilhaços de confetes

De vez em quando, a felicidade me atropela como um trem. Estraçalha-me. Acerta-me com um impacto tão grande que me faço em um milhão de confetes.
Um maremoto de sentir tremer. E esses momentos de devastação feliz nunca são aqueles em que eu estou mais eufórico, cavando felicidade em pedra.
São aqueles em que eu estou mais quieto, parado, acelerando as turbinas para o voo, dando toda atenção ao barulho da minha mente e pá: sou feliz. Sou grato. Sou corajoso. Sou sonhador. Sou voador. Sou poeta.
É uma pitada vulcânica de uma parte de mim que, normalmente, desconheço, mas que me faz entrar em erupção. É fermento. É solvente. É um grito. É um abraço. É gratidão. É um voar sem asas. É sair de si mesmo, pôr óculos corretivos de visão, olhar-se sendo outro, calcular, arredondar os cálculos e perceber que o percentual de erro ainda aponta pra um estado de alguma coisa que você não sabe dizer o nome. Não sabe porque felicidade é uma "coisa", um produto comercializado pelo mundo, com direito a genéricos e falsificações, mas ser feliz mesmo é não saber. É não ter dimensão do que se é, porque ser feliz, na prática, é atingir picos nunca antes atingidos pelos seus gráficos e, exatamente por isso, você não sabe o que é ser feliz. Lá um dia você rola ladeira abaixo, é atropelado por esse trem e saca que essa parada toda é mais simples do que dizem, nós que buscamos sempre algo que já tivemos (momento pós-não saber), mas uma felicidade nunca é igual a outra. E se felicidade for não saber, se buscamos uma coisa que sabemos, não buscamos felicidade. Estivemos tanto tempo errados...
À saber, te prepara: vem vindo um trem aí.