quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Você está tão sério



Ultimamente fui perguntado por que estava tão sério. Não respondi, sorri apenas. Achei que sorrir seria a melhor maneira de deixar de ser sério para uma pessoa que estava me perguntando porque eu estava tão sério. Depois, sozinho, refleti.
Cheguei à conclusão de que o que realmente havia, era um grande débito com o verbo viver.

sábado, 8 de outubro de 2011

Shopping center interiorano


Infelizmente nos dias atuais, o termo bodega é usado como sinônimo de bagunça, mas quem já se viu isso? Na minha infância não tão distante, bodega era quase o mesmo que Shopping center. Lembro-me muito bem de uma que no início era perto da minha casa, e depois com o aumento das transações foi transferida para um novo local maior, distante um quarteirão. Como era mágico aquele local. Tinha tons opacos e amarronzados devido o tamanho e a pouca luminosidade, mas era  um mundo de possibilidades para um pivete.
No lado direito tinha uma grande armação de ferro em que eram colocados canos plásticos de construção, e um monte de troços, um mais interessante do que o outro. Na parte de trás do ambiente ficavam os parafusos e peças para bicicletas (eu adorava essa parte), atrás do enorme balcão estavam os alimentos, produtos de higiene e tal, e em cima do balcão que ia da porta de entrada a parede do fundo, paralelo as paredes laterais, ficava a maravilhosa bomboniere em formato circular, com vários andares rotatórios, cada um segmentado em cinco partes menores, onde eram armazenados os infinitos tipos de bombons e chocolates.
A melhor parte do dia era ao anoitecer, quando meu pai ia lá e eu o acompanhava, sempre para aperrear por algo, como ele dizia. Eu adorava as ligas de baladeira, não sei porque, pois nunca fui capaz de tirar a vida de um passarinho, ou melhor nunca tive mira o bastante para isso, mas as ligas de baladeira eram legais demais. Outra coisa que eu gostava eram tortuguitas! Como era legal amputar os membros deliciosos de chocolate daquela tartaruguinha deformada! haha. E o big-big a 5 centavos? e os bombons de caramelo? ótimo! Não sei como não adquiri uma "glicosite" de tanto doce que eu comia.
 Lembro-me de uma vez que eu "endoidei" por um chuveiro. Na minha casa tinha chuveiro, eu o usava todos os dias, mas eu queria um pra colocar no quintal e tomar banho. Não sei o que diabos me chamou a atenção naquele chuveiro. Foram dias pedindo a meu pai aquele chuveiro, pedi, pedi, pedi até que um dia ele cedeu. Cheguei em casa com esse chuveiro de plástico branco, enorme, e coloquei junto aos meus brinquedos. Nunca ele saiu de lá, nunca foi instalado, e nunca tive meu resort particular montado no quintal... mas sempre que olhava para ele, me sentia realizado!
Outra vez vi um pente fino (que se usa pra catar piolho) de uma cor verde muito fluorescente, e fiz um rápido cálculo mental, de que se meus colegas tinham piolhos, e piolho "pegava", então eu tinha piolhos na cabeça também! Pronto, era o que faltava, pedi a meu pai, pedi, pedi, até que depois que ele me fez dizer que eu tinha piolhos na cabeça pra todos na bodega ouvirem , ele me deu o bendito pente (na verdade ele duvidou que eu dissesse, mas como eu tava doido pelo infeliz do pente, foi o jeito dizer). Nunca achei um maldito piolho na minha cabeça para pelo menos dizer que o troço serviu pra algo. 
Hoje, com o avanço dos "mercadinhos" o negócio está um pouco em decadência. O dono já não tem mais a mesma agilidade que outrora tivera, e o conservadorismo o estagnou no tempo, sem evoluir nem regredir.
Mas toda vez que visito o local bate aquela nostalgia quando vejo o papel de embrulho com cálculos feitos à caneta(que me fascinavam com a rapidez que eram feitos pelos vendedores), e a desbotada e antiga bomboniere em cima do balcão. Enfim, boas lembranças do meu shopping center interiorano. hahá.